30 de outubro de 2012 | 18h34
Paulo Storani, antropólogo, pesquisador da Universidade Cândido Mendes e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM do Rio, diz que a ocupação de Paraisópolis representa uma mudança na estratégia de segurança das autoridades paulistas. "Em vez de a polícia ficar nas ruas esperando os ataques acontecerem para reagir, optou-se acertadamente por ocupar o espaço de onde partem as ordens para o cometimento destes crimes. A presença da polícia na favela vai permitir que esses traficantes sejam identificados e presos. Para termos certeza de que a estratégia deu certo, com o fim dos ataques, temos que esperar para ver qual será a resposta dos traficantes. Ou os atentados vão cessar ou então passarão a ser coordenados de outras favelas", disse Storani.
Coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais, Cláudio Beato Filho também apoia a ocupação de Paraisópolis pelas forças policiais. "Ao contrário dos traficantes do Complexo do Alemão, no Rio, que detinham total controle do território, os bandidos de Paraisópolis controlam a favela, mas a polícia sempre conseguiu entrar lá mas não permanecia. O que está se fazendo agora é o que deveria ser feito no dia a dia", afirmou Beato, que criticou a falta de transparência das autoridades paulistas sobre as causas e efeitos da recente onda de violência na capital. "Não sei qual é o tamanho real do problema em São Paulo. No Rio, a Secretaria de Segurança diz claramente o que vai ser feito".
Comandante da PM do Rio na época da ocupação dos Complexos da Penha e do Alemão pelas forças de segurança, em novembro de 2010, o coronel Mário Sérgio Duarte defende que a partir de agora a presença da PM em Paraisópolis seja permanente. "No Rio, a política de segurança em relação às favelas era invasiva. Privilegiava-se a prisão de marginais e a apreensão de drogas e dos seus arsenais de guerra. Mas isso não desconstruía a `ideologia do tráfico'', a zona de conforto, de exibição e de prazer dos bandidos", explica Duarte.
Segundo o oficial, a partir das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), optou-se pela ocupação permanente destes locais, o que significa, na prática, o resgate desses territórios para as forças do Estado. "Aí sim, com a área sob controle da polícia, inicia-se a retirada de suas armas e a quebra de seus braços econômicos, como a distribuição irregular de sinal de TV a cabo, ágio no botijão de gás, taxas sobre vendas de casas nas favelas, etc. A polícia de São Paulo está num bom caminho se ocupar essas comunidades e desconstruir a ideologia da facção (PCC)".
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