Flanelinha diz que viu Mizael em carro igual ao do crime

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Por EDUARDO ROBERTO
Atualização:

Quarta testemunha a depor no Fórum Central de Guarulhos hoje, o flanelinha Bruno da Silva Oliveira afirmou que viu Mizael Bispo, ex-namorado da advogada Mércia Nakashima, deixar seu carro, um Kia Sportage, no estacionamento próximo ao Hospital de Guarulhos, na Grande São Paulo. Logo depois, segundo ele, Mizael entrou em um Honda Fit, que tinha uma mulher como motorista. O flanelinha disse que não conseguiu identificar quem estava no carro. O corpo da advogada foi encontrado em uma represa de Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, no dia 11 de junho, em um Honda Fit prata. Segundo o flanelinha, o episódio aconteceu por volta das 18h30 de 23 de maio - dia em que, segundo a polícia, ocorreu o assassinato. No mesmo dia, "mais ou menos às 22h", Oliveira relatou que viu o Kia Sportage sair do estacionamento, mas não identificou quem estava no carro. "Reparei um movimento estranho dele (Mizael), então acabei reparando na placa do Sportage. Na hora também decorei a placa do Honda Fit, mas já esqueci", explicou-se o flanelinha, quando perguntado pelos advogados de defesa sobre o fato dele ter decorado a placa do carro de Mizael.Oliveira também contou que o réu voltou ao estacionamento outras duas vezes. Em uma delas, dirigindo um Gol "bolinha", tentou falar com o flanelinha. "Eu já sabia quem ele era, então me assustei. Já tinha visto ele outras vezes no estacionamento", disse a testemunho, visivelmente nervosa.Na segunda vez, de acordo com o relato, Mizael parou e "ficou olhando" para Oliveira após estacionar seu Sportage. O flanelinha negou que o réu teria feito alguma ameaça direta contra ele, mas afirmou ter ficado amedrontado com o comportamento do ex-namorado da vítima.Alexandre de Sá Domingues, advogado da família de Mércia Nakashima, disse acreditar que o ex-namorado da vítima Mizael Bispo e o vigia Evandro Bezerra Silva vão a júri popular. "A expectativa é de justiça", afirmou. IrmãA irmã da vítima, Claudia Eliane Nakashima, contou no depoimento sobre como o relacionamento entre a advogada e o acusado do crime era conturbado. Segundo Claudia, a irmã era muito reservada sobre os namoros e o policial militar reformado, extremamente ciumento. "Ele não a deixava conversar com ninguém", disse. Claudia afirmou que desconfiava que Mércia era agredida pelo ex-namorado. Em uma das situações, diz que encontrou uma xícara quebrada no chão, como se tivesse sido arremessada na parede. No dia seguinte, viu a irmã com hematomas nos braços, mas Mércia não quis falar sobre o assunto. "Tentei conversar, mas ela tinha muito medo de Mizael", contou. Por esses motivos, a família a orientou a terminar o relacionamento com o réu.A irmã da vítima disse também ter medo de encontrar o acusado do crime, mas por outro motivo. "Depois da morte de Mércia, eu tenho medo de sair de casa e encontrar o Mizael, porque, se encontrá-lo, passo por cima dele e dou ré", desabafou.RelatoConforme Cláudia, no dia 23 de maio, quando Mércia desapareceu, as duas estavam juntas na casa da avó no momento em que o telefone da advogada tocou. Ela viu que era Mizael e desligou o aparelho, dizendo que não queria atender. Claudia comentou que a irmã tinha medo do ex-policial e que chegou várias vezes a trocar o número do telefone para não ser encontrada. As irmãs ficaram até de tarde juntas, quando Mércia falou que precisava voltar para casa para fazer uma hidratação no cabelo.No dia seguinte, Claudia estranhou que a irmã não havia ligado, já que era hábito telefonar por volta das 8h30 da manhã para falar como estavam as coisas. Ambas moravam juntas. Por volta do meio-dia, como também era costumeiro, Mércia deveria ligar para a irmã para combinar sobre o almoço, o que não ocorreu. Claudia, então, resolveu ligar para a irmã. Não obtendo resposta, telefonou para Mizael, que também não atendia o celular. Foi quando a irmã começou a ficar preocupada.Neste mesmo dia, ela e o irmão, Márcio Nakashima, foram ao 6.º Distrito Policial e pediram para registrar um boletim de ocorrência por desaparecimento, mas, segundo ela, os policiais pediram que a procurassem na vizinhança. Eles foram em alguns bairros e favelas, mas não a encontraram.No depoimento, Claudia contou ainda que o vigia Evandro Bezerra Silva, também réu no processo, seria o homem de confiança de Mizael. Além disso, ela apontou um fato sobre a aposentadoria do policial: "Ele dizia que não poderia ser mais PM porque não conseguia atirar, mas andava sempre armado."O depoimento da testemunha durou cerca de uma hora e meia. Antes de começar a ouvi-la, o juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano pediu a retirada dos dois réus a pedido da própria Claudia. Antes do início da audiência, o magistrado falou que pretendia ouvir hoje todas as testemunhas de acusação. Por isso, as de defesa foram dispensadas, após concordância de ambas as partes, para serem ouvidos apenas na terça.IrmãoMárcio Nakashima, irmão de Mércia, foi o terceiro a depor. Ele afirmou que se "arrepende de não ter feito uma oposição mais dura" ao relacionamento entre Mércia e Mizael. "No começo do namoro entre os dois, ouvi falar que ele não prestava", disse ao juiz. Antes dele, depôs o investigador do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) Alexandre Silva. Ele deu detalhes técnicos da análise dos celulares de Mizael e Evandro Silva, o vigia. Segundo o investigador, de 41 ligações entre Mizael e Mércia em um período de um mês, a maioria foi dela para ele.

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