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Golfista de Japeri sonha em conhecer Tiger Woods e jogar Olimpíada

Por ALICE PEREIRA
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Em Japeri, município pobre da região metropolitana do Rio, Anderson Nunes, de 15 anos, não sonha em brilhar nos gramados como um novo Ronaldo, mas sim como o grande golfista norte-americano Tiger Woods. O objetivo da carreira já está traçado, representar o Brasil quando o golfe voltar aos Jogos Olímpicos, em 2016. O adolescente franzino, quarto no ranking brasileiro da sua faixa etária, disputa nesta semana o torneio Junior British Open, em Fairhaven (noroeste da Inglaterra), competindo com alguns dos melhores jogadores jovens do mundo. Depois do torneio, Nunes ficará na Grã-Bretanha para assistir ao British Open, e espera trazer para casa como troféu uma camisa autografada por Woods, um dos maiores golfista de todos os tempos. "Meu sonho é me tornar profissional e conhecer o Tiger Woods. Jogar um dia um torneio com ele, apertar a mão dele e falar que eu já vi o Tiger Woods. Ele é o meu ídolo", disse Nunes à Reuters na modesta casa onde mora. Ao contrário da vasta maioria das crianças brasileiras de baixa renda, fanáticas por futebol, Nunes pôde se familiarizar com o golfe porque seu tio era caddie (carregador de tacos) num campo de elite na rica zona sul carioca, onde sua mãe trabalha como empregada doméstica cinco dias por semana. Ele e outras crianças do seu bairro só tiveram a chance de jogar golfe porque em 2005 um grupo de caddies, inclusive seu tio, montaram um campo improvisado de três buracos num terreno baldio de Japeri. A iniciativa foi apoiada pela federação de golfe do Rio e pela secretaria estadual de Esportes, que fizeram investimentos para melhorar o campo. Hoje, o Japeri Golfe Clube, primeiro campo público do Brasil, oferece aulas para crianças de 7 a 17 anos. Os participantes precisam ter bom aproveitamento escolar para jogar, e a atividade afasta os menores das drogas e do crime. GOLFE EM VEZ DA RUA O pequeno quarto de Nunes praticamente só tem espaço para a sua coleção de troféus, que o adolescente tímido e de voz mansa mostra com uma ponta de orgulho. "Eu ficava muito na rua, minha mãe ficava preocupada comigo porque eu ficava o dia inteiro na rua. Então minha mãe me colocou no golfe e hoje eu não faço mais nada, só estudar e jogar golfe." Mas ele conta que sofreu discriminação nesse esporte de elite. "Agora eu estou me sentindo melhor, antigamente, quando eu comecei, eu me sentia mal, as pessoas não tratavam a gente bem só porque elas tinham dinheiro. Mas depois que o meu golfe foi melhorando, os juniores que jogam com a gente hoje me tratam como qualquer um." Os melhores tacos de Nunes e a sacola que ele usa foram presente de um admirador rico, que também ajudou a bancar uma reforma na casa dele. Mas o objetivo do garoto é conseguir um patrocinador permanente e ajudar sua mãe a pagar as contas. Outro sonho é representar o Brasil na Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro, quando o golfe voltará aos Jogos após mais de um século de ausência. Como país sede, o Brasil tem vaga assegurada. O técnico dele, Tiago Silva, acha que seu pupilo ainda não estará maduro, mas Nunes disse que nada é impossível. "Só basta eu treinar bastante, estudar, e treinar para ver se eu consigo chegar pelo menos no ranking. Depende de mim, só basta eu querer, treinar bem, jogar melhor do que eu sou hoje em dia", disse Nunes. O torneio na Inglaterra, para o qual ele foi convidado pela prestigiosa entidade internacional de golfe Royal & Ancient, será a terceira experiência internacional de Nunes. Ele já passou uma semana treinando na Academia de Golfe David Leadbetter, na Flórida, também a convite, e representou o Brasil num torneio sul-americano no Peru. Mas ele evita se orgulhar dos seus feitos, e está ciente do longo e difícil caminho que tem pela frente. "A humildade é importante para qualquer um, mas para a gente que é pobre, é muito importante."

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