Grupo estuda origem muscular da dor de cabeça

Pesquisa com 145 pacientes com sintomas de cefaléia e enxaqueca revelou que 84% tinham dor miofascial

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

As más-posturas no trabalho e na hora de dormir, o ranger e apertar os dentes, os maus hábitos alimentares ? como fazer refeições muito espaçadas ?, a desidratação e o estresse emocional podem estar causando um tipo de dor de cabeça ainda pouco conhecida pelos profissionais de saúde: a dor miofascial. De alta incidência na população, conforme pesquisas realizadas na Faculdade de Odontologia (FO) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, esse tipo de dor tem a sua origem em pontos de 2 a 5 mm de diâmetro que podem surgir em qualquer músculo ou tendão do corpo. Quando estimulados, eles causariam dor no local e em outras regiões do corpo, até mesmo nos dentes e ouvidos, causando dor muitas vezes confundida com dor dentária, otite, cefaléia ou enxaqueca. Diagnóstico confuso Esta característica da dor miofascial, de acordo com o coordenador da pesquisa Francisco Guedes Alencar Jr, responsável pela disciplina de Oclusão e Dores Orofaciais da FO, pode estar confundindo o diagnóstico e tratamento de quem sofre do problema. ?Diante disto, um programa na Faculdade está também ensinando dentistas e os seus próprios alunos a detectar a origem da dor e tratar estes casos?, afirma. Guedes alerta que, muitas vezes, por desconhecimento dos colegas, quando a dor atinge os dentes, há casos em que eles acabam submetendo pacientes a tratamentos sem necessidade. O fenômeno é bastante comum em quem sofre de problemas na mandíbula. ?O dentista tem que saber que qualquer dor, da cabeça ao pescoço, pode ser de origem muscular?, alerta. 84% com dor miofascial Para saber a real incidência da dor de cabeça de origem muscular, os pesquisadores fizeram um chamamento por anúncios de jornal de pessoas com 18 a 65 anos, com cefaléia e/ou enxaqueca. De 145 pacientes atendidos na Clínica de Dores Orofaciais da FO, 84% possuíam a dor miofascial. Segundo a quartanista Paula Volpato Sanitá, que integra a equipe envolvida no estudo, o grupo que pesquisa a dor miofascial pretende atender cerca de 400 pacientes. Dor irradiada Para saber se a origem é muscular, os voluntários respondem a um questionário e passam por um exame físico, incluindo palpação muscular. ?Depois, por meio de toques nos músculos e questionando o paciente sobre a sensibilidade, fazemos o diagnóstico e a avaliação da intensidade e duração da dor, verificando se ela está sendo irradiada para outros locais do corpo,? descreve Paula. Em uma outra etapa, os pacientes passam por avaliação neurológica para verificar se a dor tem relação com a disfunção dos pares de nervos cranianos. Em caso de alterações, são encaminhados para um especialista da área. Na última etapa, por meio dos dados obtidos pela anamnese e exame físico, é feita a classificação do tipo da dor de cabeça, conforme formulário proposto pela IHS - Sociedade Internacional de Dor de Cabeça. ?Muitos que chegam aqui sofriam há vários anos, tinham passado por vários especialistas e, hoje, com a nossa abordagem se consideram livres do problema?, conta Guedes. Tratamento Os pacientes diagnosticados recebem tratamento gratuito. Seguem um programa terapêutico que inclui aconselhamento para mudanças de hábitos posturais inadequados em sono e vigília, hábitos alimentares, incorporação de exercícios físicos, uso de medicamentos e fisioterapia. ?Dependendo da gravidade, seguindo o tratamento, os resultados começam a ser sentidos em 15 dias, mas a melhora é sempre progressiva?, acrescenta Guedes, que começou a pesquisa depois de realizar um curso de pós-doutorado de dois anos, na Universidade de Minessota, EUA, juntamente com um curso de residência médico-odontológica na área de dores orofaciais. Pacientes interessados em participar da pesquisa devem ligar para 16-201-6407, em horario comercial

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.