Honduras fica isolada após destituição de presidente

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Por MICA ROSENBERG
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A pressão pela volta de Manuel Zelaya ao cargo de presidente de Honduras aumentou nesta segunda-feira, quando líderes latino-americanos decidiram retirar os seus embaixadores da capital hondurenha, Washington chamou de ilegal a queda de Zelaya, e manifestantes saíram às ruas do país em protesto. Manuel Zelaya foi derrubado do poder por um golpe militar no domingo. Nesta segunda-feira, na capital hondurenha, a polícia lançou gás lacrimogêneo contra manifestantes pró-Zelaya, que atacavam com pedras. Duas dezenas de pessoas foram presas. Cerca de 1.500 manifestantes, alguns com máscaras, queimaram pneus do lado de fora do palácio presidencial. Zelaya, político de esquerda, foi detido e enviado para o exílio na Costa Rica, por conta de um conflito sobre a possibilidade de ampliação do seu período como presidente. O golpe contra ele é a maior crise política na América Central em décadas. Líderes de esquerda da América Latina, comandados pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciaram numa reunião em Manágua, Nicarágua, que eles iriam retirar os seus embaixadores de Honduras em protesto contra o golpe. Líderes da América Central, também reunidos em Manágua, acompanharam a decisão logo depois, de acordo com fonte diplomática. No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores determinou o embaixador em Honduras, Brian Michael Fraser Neele, fique no Brasil sem prazo para voltar ao país centro-americano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não reconhecerá outro governo que não seja o do presidente deposto. "Não podemos aceitar mais, na América Latina, alguém querer resolver o seu problema de poder pela via do golpe", disse Lula. "O Zelaya ganhou as eleições. Portanto, ele deve retornar à Presidência de Honduras." Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou que seria um "precedente terrível" voltar a uma era de golpes militares. Segundo ele, a ação contra Zelaya "não foi legal". O golpe é um teste para Obama, já que ele pretende melhorar a imagem dos Estados Unidos na América Latina. "Está muito claro o fato de que o presidente Zelaya é o presidente democraticamente eleito", disse Obama. Ele acrescentou que Washington vai trabalhar com a Organização dos Estados Americanos (OEA) e outras instituições internacionais "para ver se podemos resolver isso de maneira pacífica". Honduras, país pobre, de 7 milhões de habitantes, é grande produtor de café. Não há sinais de que a distribuição e as exportações de café sofrerão problemas, uma vez que portos e estradas permanecem abertos. SEMANA DE TENSÃO Nos protestos desta segunda-feira em Tegucigalpa, cerca de duas dezenas de manifestantes foram presos. A polícia teve que liberar bloqueios atrás do palácio presidencial. "A polícia nos cercou. Lançou gás e começou a bater em todo mundo", afirmou o manifestante pró-Zelaya Joel Flores, de 19 anos. O golpe militar ocorreu depois de uma semana de tensão política em Honduras, quando o presidente Zelaya, aliado de Chávez e no poder desde 2006, irritou o Congresso, a Suprema Corte e o Exército por forçar uma consulta popular sobre a possibilidade de reeleição presidencial. Antes de ele levar à frente a votação no domingo, os militares hondurenhos o prenderam e o enviaram para a Costa Rica, no primeiro golpe militar bem-sucedido na América Central desde a Guerra Fria. A Suprema Corte, que na semana passada vetara a tentativa de Zelaya de demitir o chefe das Forças Armadas, declarou que disse ao Exército para remover o presidente. Roberto Micheletti, nomeado pelo Congresso, horas depois do golpe, como presidente interino até as eleições de novembro, impôs toque de recolher para domingo e segunda-feira. Ele disse que nenhum líder estrangeiro tem o direito de ameaçar Honduras. MUDANDO DE LADO Zelaya, 56 anos, fazendeiro, era antes próximo à elite hondurenha que governava o país. Ele aliou-se ao bloco regional de Chávez e levou Honduras para a esquerda. A sua aliança com Chávez e os esforços para prorrogar o seu mandato não caíram bem junto aos militares e a elite conservadora. Honduras está dividida em relação à crise política. Pesquisas recentes mostraram que o apoio a Zelaya caiu para 30 por cento nos últimos meses. O país tem sido politicamente estável desde o fim do regime militar nos anos 1980. (Colaboraram Gustavo Palencia em Tegucigalpa, Sean Mattson em Manágua, Arshad Mohammed e Matt Spetalnick em Washington)

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