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País terá oportunidade inédita de testar projetos na ISS

Por Agencia Estado
Atualização:

Dentro de duas semanas, oito experimentos científicos brasileiros estarão flutuando no espaço a caminho da Estação Espacial Internacional (ISS). Já nos preparativos finais para a viagem do primeiro astronauta brasileiro, na noite do dia 29, os projetos foram aprovados pela Agência Espacial Russa em definitivo na semana passada. Será uma oportunidade inédita para a comunidade científica brasileira cruzar a fronteira do espaço com passaporte próprio, sem depender da parceria com pesquisadores estrangeiros. A experiência do País em ambiente de microgravidade é extremamente limitada. Até agora, as únicas oportunidades mais significativas de pesquisa ocorreram em 1997 e 1998, quando alguns experimentos brasileiros pegaram carona em dois vôos dos ônibus espaciais da Nasa, em colaboração com instituições estrangeiras. Fora isso, foram realizados alguns vôos - nem sempre bem sucedidos - com foguetes de sondagem lançados da base de Alcântara, no Maranhão, que permanecem em microgravidade apenas por alguns minutos. Em outros países, com programas espaciais mais desenvolvidos, o espaço é um ambiente cobiçado de pesquisa. A ausência de gravidade permite a observação de fenômenos que não são visíveis ou não podem ser reproduzidos em terra. "Todo experimento tende a eliminar variáveis, como temperatura e pressão. Tem uma variável, entretanto, que é quase impossível de eliminar: a gravidade", diz o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador técnico-científico da Missão Centenário, Irajá Bandeira. Os experimentos que são enviados ao espaço não precisam, necessariamente, ter alguma aplicação prática na Terra. A grande maioria busca elucidar conceitos básicos de física, química e biologia. Assim como os cientistas querem saber como uma planta se comporta em diferentes temperaturas, por exemplo, querem saber como ela se comporta na presença ou na ausência de gravidade. "Eu diria que 95% dos experimentos espaciais no mundo não visam a ganhar dinheiro, mas produzir conhecimento", diz Bandeira. "A longo prazo, muitas coisas podem reverter para alguma nova tecnologia, mas a idéia inicialmente não é necessariamente essa." Os oito experimentos brasileiros selecionados para o vôo do astronauta Marcos Pontes incluem projetos de biotecnologia, engenharia mecânica, microeletrônica, biologia e engenharia genética. Um deles, inclusive, é uma reprodução do famoso "experimento" escolar do brotamento de sementes de feijão, que será monitorado na presença e na ausência de luminosidade. Todos os projetos são acondicionados em caixas metálicas fechadas, para que sejam acopladas ao interior da ISS durante os oito dias da missão. Tudo que o astronauta terá de fazer no espaço é apertar botões e fazer anotações, seguindo as orientações dos pesquisadores. Entre os experimentos brasileiros que já voaram nos ônibus espaciais da Nasa estavam estudos de proteínas, enzimas e planárias (um tipo de verme com fantástica capacidade de regeneração). Em 1997, o cientista Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo, aproveitou a vaga no shuttle para produzir cristais de proteínas envolvidas no mal de Chagas e no reconhecimento de células tumorais. Os cristais são essenciais para a elucidação da estrutura molecular das proteínas, e podem ser produzidos com uma qualidade muito maior em microgravidade. Segundo Oliva, o conhecimento obtido a partir dos experimentos serviu de base para uma série de teses e trabalhos científicos publicados nos últimos anos. "Ainda estamos trabalhando com eles", disse. Segundo ele, o processo de cristalização pode levar dias - justamente o exemplo de experimento que não pode ser realizado em vôos suborbitais de curta duração, como os dos foguetes de sondagem. Oliva, assim como todos os cientistas que estão enviando experimentos à ISS, espera que a Missão Centenário não seja uma oportunidade isolada. "Seria muito importante que tivéssemos um programa sustentado nessa direção", disse.

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