Papa inicia viagem para México e Cuba

Por causa da idade e da saúde, Bento XVI terá uma agenda de poucos compromissos

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Por José Maria Mayrink
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O papa Bento XVI desembarcará nesta sexta-feira na cidade mexicana de Guanajuato, a 330 quilômetros da capital, para a primeira visita à América Hispânica de seu pontificado, de seis dias, que inclui Cuba. Apesar da expectativa de uma recepção calorosa ao papa, a Igreja Católica enfrenta grandes desafios numa região que perde fiéis para seitas evangélicas e põe em xeque suas doutrinas de concepção, casamento homossexual e aborto, entre outros temas. Na Cidade do México, por exemplo, a prefeitura de esquerda despenalizou o aborto e legalizou a união homossexual. No roteiro de quatro dias no México, Bento XVI dará prioridade à evangelização. Embora esteja previsto no sábado, em Guanajuato, um encontro de 30 minutos com o presidente mexicano, Felipe Calderón, o ponto forte da programação se dará em León - cidade de 1,5 milhão de habitantes a 76 quilômetros de Guanajuato. Ali, Bento XVI fará no domingo uma homilia para uma multidão prevista de 600 mil pessoas no Parque do Bicentenário. O governo mobilizará 5,7 mil homens para a proteção de Bento XVI. Depois, o papa recitará o Angelus Domini (saudação do arcanjo Gabriel à Virgem Maria, na anunciação). Às 18 horas, Bento XVI celebrará as Vésperas (horas do Ofício Divino no fim da tarde) com os bispos do México e da América Latina, na Catedral da Mãe Santíssima da Luz de León. A tônica do encontro será a evangelização do continente. O cardeal-arcebispo de Aparecida, d. Raymundo Damasceno Assis, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), participará do encontro em León. "Apesar de 93% da população ser batizada - católica e protestante -, a violência, o narcotráfico, os sequestros, as extorsões, a corrupção, os roubos e a insegurança mostram que muitos cristãos não são coerentes com a nossa fé", disse o bispo de San Cristóbal de las Casas, d. Felipe Arismendi Esquivel, ressaltando problemas e desafios do México. Em Cuba. No dia 26, o papa partirá para Cuba - ilha onde se concentra o menor número de fieis católicos da América Hispânica. Sua visita é aguardada com expectativa e sob a sombra de uma crise iniciada na semana passada entre um pequeno grupo dissidente do regime e a Igreja Católica cubana. Os problemas ocorreram depois que um grupo de 13 opositores ocupou, na terça-feira, a Basílica Menor de Nossa Senhora da Caridade, pedindo que o papa intercedesse em suas demandas políticas pela libertação de dissidentes durante sua visita a Cuba.Embora criticada até por oposicionistas, a ocupação teve uma reviravolta depois que o Arcebispado de Havana, dirigido pelo cardeal Jaime Ortega, não conseguiu convencer os manifestantes a deixar o local com a garantia de que não seria detidos, após gestões com o governo. Diante do impasse, o cardeal Ortega pediu ao governo que retirasse os ocupantes da basílica. Na quinta-feira, o grupo foi colocado em dois ônibus por policiais desarmados, levado a uma delegacia, fichado e depois liberado. A iniciativa do cardeal Ortega, que teve aval do Vaticano, foi criticada por outros dissidentes. Ortega foi o principal articulador do diálogo entre Igreja e Estado nas negociações que, ano passado, resultaram na libertação de dezenas de presos políticos.A programação do papa na ilha começa segunda, dia 26, quando Bento XVI desembarca em Santiago de Cuba. Ele celebrará missa em homenagem aos 400 anos do aparecimento da Virgem da Caridade do Cobre, cuja imagem foi encontrada por dois indígenas e um negro, entre 1607 e 1608, Bento XVI fará uma homilia na Praça da Revolução. Em Havana, onde deverá chegar no dia seguinte, o papa terá um encontro com o presidente Raúl Castro. O ponto alto do programa será a missa campal que Bento XVI celebrará, na quarta-feira, 28, na Praça da Revolução José Martí, onde a celebração presidida por João Paulo II reuniu 800 mil pessoas em 1998. Durante a cerimônia, o papa fará mais uma homilia, provavelmente a mais importante da viagem. Como fez seu predecessor, ele deverá tocar em pontos essenciais, como liberdade, bloqueio econômico e solidariedade. A volta a Roma está prevista para o dia seguinte. / COM AP e AFP

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