Tiroteio na zona norte do Rio deixa oito mortos

PM diz que vítimas reagiram à chegada de policiais e se preparavam para assaltar; cabo também morreu

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Por Felipe Werneck
Atualização:

RIOPoliciais militares mataram ontem pelo menos sete pessoas em alegado confronto por volta de meio-dia na Favela do Jacarezinho, zona norte do Rio. Baleado no pescoço, o cabo da PM Adriano Ferreira da Silva, de 28 anos, também morreu. A moradora Stela Maria Pereira de Oliveira, de 46, foi ferida na boca, levada ao Hospital Geral de Bonsucesso, e teve alta à tarde.O comandante do 3º Batalhão na PM, tenente-coronel Álvaro Moura, responsável pela operação, afirmou que os sete mortos eram criminosos. Segundo ele, todos estavam armados e reagiram a tiros à chegada de uma equipe da PM que fora ao local para checar denúncia de que uma quadrilha se organizava para roubar carros na Avenida D. Helder Câmara, um dos acessos à favela. Moradores contestam a versão.Outro corpo teria sido encontrado na favela, mas até o início da noite de ontem não havia confirmação da polícia.Policiais militares levaram para a 25ª Delegacia drogas e oito armas (cinco pistolas, dois revólveres e uma carabina) apreendidas na operação. Foram coletadas 2.115 trouxinhas de maconha, 475 sacolés de cocaína e 197 pedras de crack, embaladas em pacotes de papel com uma imagem do filme Pânico. No fim da operação, cinco moradores que estavam desarmados foram detidos "para averiguação". Moura afirmou que um dos mortos "possivelmente" seria um dos líderes do tráfico de drogas na favela, conhecido como Garça. Até o início da noite, os acusados não foram identificados pela Polícia Civil.Inicialmente, cinco PMs foram à favela em uma Blazer para checar a denúncia. "Batemos de frente com mais de dez na entrada da feira. Os sete caíram ali, meu parceiro levou um tiro no pescoço e o resto correu para perto da boca (de fumo)", disse um dos policiais que participou da ação. Moura afirmara mais cedo que tinham sido dez, todos fardados. Moradores contaram, porém, que um grupo de policiais chegou à paisana por volta de 11h30, já atirando. Após o tiroteio inicial foi mandado reforço de 40 homens. "Recebemos ligações dando conta de que dez marginais estavam se preparando para praticar assaltos na região", disse Moura. "Todos (os suspeitos) eram bandidos. Uma prova disso é que não há protesto quando marginais morrem. Existe quando são inocentes."No ano passado, policiais civis e militares do Rio mataram 1.048 pessoas em alegados confrontos, registrados como autos de resistência. Os dados são divulgados desde 1998. Em 12 anos, foram 10.459 casos. O período em que a polícia mais matou foi durante o governo de Sérgio Cabral Filho (PMDB): 3,2 pessoas por dia, em média.

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