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Trompete a serviço do sentimento

Cubano Arturo Sandoval esbanja técnica para comunicar sua emoção no Brasil

Por Lucas Nobile
Atualização:

Há quem diga que a simplicidade caminha de mãos dadas com os gênios. Prestes a completar 60 anos (dia 6 de novembro), o trompetista Arturo Sandoval desembarca no Brasil com status de mito da música latina. O cubano chega ao País para apresentações no Rio (hoje), em São Paulo (sexta, dia 23) e em Porto Alegre (domingo, dia 25) com a bagagem sobrecarregada de prêmios.Quatro Grammys, seis Billboards, um Emmy e eleito o melhor instrumentista cubano de 1982 a 1990, hoje Sandoval toca apenas para emocionar o público. "Eu não guio minha carreira e minha vida pelos prêmios. Eu acredito que a coisa mais linda que existe é o calor com que o público me brinda. Há coisas muito mais interessantes e superiores, que têm muito mais valor do que premiações, como o respeito do público, e que as pessoas parem para ver e ouvir o que você faz", disse o trompetista ao Estado, por telefone.Em relação a influências da música brasileira, Sandoval não foge à regra ao eleger Tom Jobim como o compositor mais importante do País. Sobre referências mundiais, o cubano também não consegue escapar de um nome bem conhecido: Dizzy Gillespie. Mesmo depois de 16 anos da morte do trompetista americano, Sandoval ainda fala do ídolo com devoção. Naturalmente, já que Gillespie transformou não apenas a carreira, mas também a vida de Sandoval. Além de ter os horizontes musicais radicalmente ampliados pelas inovações de Gillespie, foi ao lado do mentor americano que Sandoval excursionou pelos Estados Unidos no início da década de 1990, decidindo se estabelecer no país que o adotou até hoje. "Para mim, é uma honra que me comparem a Gillespie. Ele foi um gênio criador de um estilo completamente novo, mas acho injusto me compararem a ele. Eu não criei nenhum tipo de música, sou apenas um aprendiz dele", disse.Nascido na província cubana de Artemisa, o trompetista nunca mais voltou ao país. Adaptado à vida que leva em território americano, ele recusa-se a falar de política. "O povo cubano é prejudicado por muitas coisas, entre outras, por não ter acesso à música. Todos os dias agradeço a Deus por morar nos Estados Unidos, sou muito feliz aqui."Dividido entre as nações dos Obama e dos Castro, Sandoval foge de maniqueísmos em relação à produção musical dos dois países. Evitando tomar partido pela escola cubana ou pela americana, o trompetista defende apenas a boa música, independente de territórios. "Não creio que haja uma divisão tão categórica. Não se pode esquecer o que aprendemos com Beethoven, Bach, Mozart, Chopin, Ravel, Debussy, Rachmaninoff. Música é universal, não se pode falar apenas de uma escola ou de um idioma."Reconhecido e admirado por sua técnica como instrumentista - principalmente pela velocidade com que executa temas dificílimos, e pelo alcance de notas agudas no trompete -, Sandoval concorda com os versos de Noel Rosa, que dizem que "batuque é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio". Ainda assim, ele dá aulas na Universidade Internacional da Flórida com a crença de que mesmo alunos sem tanta aptidão possam aprender música com professores capacitados, e de que o domínio do instrumento serve apenas como um canal comunicador da emoção das pessoas. "Acredito que o ideal seja a combinação das duas coisas, a técnica e o sentimento. O músico pode ter muita emoção, mas precisa da técnica para expressá-la", comentou.No Brasil, Sandoval mostrará repertório variado, com clássicos de sua discografia de 40 álbuns, e de outros artistas, com música cubana e as diversas vertentes do jazz, como a tradicional, a contemporânea, a afrocubana e a latina. E, se deixarem, ele invade a madrugada brasileira apenas pelo prazer de estar no palco. "Depende do tempo que me pedirem para tocar minha música." Serviço Rio de JaneiroVivo Rio. Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo.Hoje 21/10, 21h30. R$ 100/R$ 180 São PauloTeatro Bradesco. Rua Turiassu, 2.100. Informações: 4002-0019. 6.ª, 21h30. R$ 60/R$ 150 Porto AlegreTeatro do Bourbon Country. Túlio de Rose, 80. Informações: (51) 8401-0555 ou 3299-0800. Dom., 20 h. R$ 80/R$ 200

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