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A humanidade nunca viu tão longe

O telescópio James Webb marca novo capítulo na exploração do universo e amplia os horizontes da atual geração

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Por Notas&Informações
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A divulgação das primeiras imagens captadas pelo telescópio espacial James Webb, nesta semana, marca um novo capítulo na exploração do universo − e na história da humanidade. Não à toa, cientistas ligados ao projeto liderado pela Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa) deram declarações emocionadas, vislumbrando a possibilidade de decifrar mistérios antes insondáveis. Astrônomos e pesquisadores, com certeza, hão de tirar proveito do mais potente telescópio já construído. Mas as fotografias de galáxias e astros, produzidas pelo James Webb, cumprirão também outro papel: o de permitir que a atual geração tenha a mais abrangente e nítida visão do cosmos, como nenhuma outra antes na história.

Em sua permanente tentativa de compreender a vida e o mundo, a ciência anda de mãos dadas com a visão que o ser humano tem de si próprio − e de seu lugar no universo. Pelas lentes da tecnologia, nos últimos séculos, foi possível desvendar realidades que antes escapavam aos olhos, seja na esfera microscópica ou na imensidão celestial. Cada época contém em si os limites do seu desenvolvimento científico e tecnológico. E isso é determinante para a percepção que as diferentes gerações têm do mundo em que vivem. Basta lembrar que foi somente no século 20 que se produziu a primeira imagem da Terra vista do espaço. Assim como a representação cartográfica dos continentes foi se transformando ao longo dos séculos. 

A história da ciência é fascinante. E mostra que a realidade de cada época, em larga medida, reflete o nível de conhecimento já atingido. Antes que se popularizassem as imagens da Terra coberta de nuvens no século 20, ou até que o primeiro homem desembarcasse na Lua, quantas páginas de literatura e ficção foram escritas tentando descrever o que, até então, era desconhecido?

O James Webb, um projeto bilionário, é sucessor do Hubble, telescópio lançado ao espaço em 1990 e que também produziu imagens impressionantes. Entre inúmeros avanços tecnológicos do Webb, vale destacar a distância em que o novo artefato orbita a Terra: aproximadamente 1,5 milhão de quilômetros, ante cerca de 600 quilômetros do Hubble (sim, o Webb está a mais de 1 milhão de quilômetros, enquanto a órbita do Hubble é inferior a mil). É dessa distância descomunal para os padrões de quem vive na Terra que o James Webb passou a vasculhar o espaço.

A primeira foto foi tornada pública na última segunda-feira, na Casa Branca, diante do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e da vice-presidente Kamala Harris. O que se vê é uma enorme quantidade de galáxias localizadas a bilhões de anos-luz da Terra. Um dos objetivos do James Webb é capturar imagens próximas ao que se acredita ter sido o início do universo, quando as primeiras galáxias se formaram. Outro é analisar a composição da atmosfera de planetas distantes, para saber se são habitáveis. Com o novo telescópio, a humanidade enxergará longe como nunca − e seguirá em busca de respostas para o mistério da vida e do cosmos, missão eterna da ciência.