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A volta das máscaras

Alta súbita de internações por covid reforça a necessidade de prudência e de campanhas para estimular a vacinação

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Por Notas & Informações
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Após dois anos da pandemia de covid-19, muita gente recebeu com alívio o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. Também pudera: desde os primeiros meses da pandemia, em 2020, cobrir o rosto para reduzir o risco de contágio havia sido uma das principais estratégias contra a doença, juntamente com o isolamento social, o distanciamento e a ventilação de ambientes. A população aderiu, e máscaras descartáveis ou de pano logo viraram item essencial. À medida que a vacinação avançou, porém, foi possível retomar gradativamente as atividades e, por fim, dispensar o uso das máscaras: primeiro ao ar livre, depois em ambientes fechados.

Em São Paulo, em março deste ano, um decreto estadual acabou com a obrigatoriedade em locais fechados, exceto em unidades de saúde e no transporte coletivo. Para uma parcela da população, foi a senha para a volta à vida normal, por assim dizer. Pesquisa Datafolha mostrou que cresce o número de pessoas sem medo de contrair covid-19: essa foi a resposta de 29% dos entrevistados em levantamento divulgado em 1.º de junho. Trata-se do maior porcentual desde o início da pandemia. No outro extremo, 37% afirmaram ter muito medo, o índice mais baixo desde abril de 2020.

Eis que o relaxamento está cobrando seu preço: como mostrou o Estadão, o número de infectados por coronavírus internados em leitos de enfermaria ou UTI, na rede municipal de saúde da capital paulista, subiu 251% entre 30 de abril e 30 de maio. Na rede privada, 275%. Em números absolutos, o salto na rede municipal foi de 56 para 197 pessoas − bem abaixo, portanto, das 873 internações verificadas no fim de janeiro, no surto da variante ômicron. Mas alto o suficiente para disparar o alarme entre as autoridades sanitárias. 

Nesta semana, o Comitê Científico que assessora o governo do Estado de São Paulo a respeito da pandemia voltou a recomendar o uso de máscaras em ambientes fechados, no Estado inteiro. Embora sem caráter obrigatório, a orientação é um claro sinal de que a população deve redobrar cuidados e agir com prudência. Como já lembramos aqui, a pandemia, infelizmente, não acabou.

As máscaras protegem, mas o verdadeiro escudo contra o vírus é a vacina. Por isso, preocupa que a adesão inicial à vacinação venha perdendo força: até maio, 89% da população vacinável no País havia tomado a primeira dose, índice que caía para 82% na segunda dose. Pior: somente 57% da população brasileira de 18 anos ou mais havia tomado a dose de reforço (78% no Estado de São Paulo), segundo o Consórcio dos Veículos de Imprensa.

O secretário de Saúde da capital paulista, Luiz Carlos Zamarco, foi direto ao ponto: “Além do uso da máscara, é importante que a população complete o seu ciclo vacinal, tanto para o primeiro ciclo quanto para as doses de reforço”. O uso da máscara, por óbvio, é importante, mas o que realmente protege é a vacina. Diante de tantas evidências, vale perguntar por que o Ministério da Saúde não faz campanhas pró-vacinação em todo o País. Ajudaria a salvar vidas e a acelerar o fim da pandemia. É pedir demais?