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Ainda a covid

Nove milhões de paulistas estão com a vacinação em atraso, um absurdo que precisa ser enfrentado

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Por Notas & Informações
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Com a nova alta de casos de covid-19 nos últimos dias, veio à tona um dado estarrecedor: pelo menos 9 milhões de moradores do Estado de São Paulo estão com a terceira dose (ou dose de reforço) em atraso, conforme noticiou o Estadão. Isso corresponde a mais de um quinto da população paulista a partir dos 12 anos de idade, para quem o reforço é recomendado. A informação consta em balanço da Secretaria de Estado da Saúde, que revelou ainda que 7 milhões de pessoas na faixa de 40 anos ou mais ainda não tomaram a quarta dose no Estado. 

Tal situação é espantosa e nos obriga, mais uma vez, a reiterar o que já afirmamos inúmeras vezes neste espaço: a vacina salva vidas e constitui o método mais eficaz de prevenção de formas graves da covid-19. Nada justifica tamanha desatenção em relação às doses de reforço contra uma doença que já matou mais de 688 mil pessoas no País. Tão ou mais impressionante é o silêncio do Ministério da Saúde, que deveria estar à frente de campanhas nacionais de mobilização. Só na Grande São Paulo, houve aumento de 65% no número de internações em unidades de terapia intensiva nas últimas duas semanas. 

O balanço referente à vacinação deve servir de alerta não só para as autoridades sanitárias paulistas, mas do Brasil inteiro. Até porque o índice de cobertura vacinal no País é inferior ao verificado em São Paulo: segundo o consórcio de veículos de imprensa, que contabiliza dados das Secretarias Estaduais da Saúde, 35% da população brasileira de 18 anos ou mais de idade ainda não tomou dose de reforço. 

A alta de infecções nos últimos dias é associada ao avanço da nova subvariante da Ômicron, a BQ.1. Embora não se saiba se essa subvariante é mais grave ou mais transmissível, existe o risco de que escape à proteção oferecida pelas atuais vacinas − o que torna as doses de reforço ainda mais necessárias, segundo especialistas. Entrevistada pelo Estadão, a médica Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia, enfatizou também a importância de que a cobertura vacinal fique acima de 90%. Na cidade de São Paulo, por exemplo, o índice referente à terceira dose chega a 96% entre maiores de 50 anos, mas cai para 77% entre quem tem de 18 a 49 anos.

Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro adotou atitude irresponsável e negacionista desde o início da pandemia, promovendo aglomerações, desencorajando o uso de máscaras e questionando a eficácia da vacina. Isso, por óbvio, deu força a visões completamente equivocadas sobre o enfrentamento da covid-19 e contribuiu para enfraquecer o Programa Nacional de Imunizações, implementado e aperfeiçoado ao longo de décadas por diferentes governos. A vacina, como se sabe, tem caráter preventivo. Trata-se da forma mais eficaz de proteção e comprovadamente salva vidas. As autoridades sanitárias de São Paulo e de todo o País têm o dever de agir para elevar a cobertura vacinal, numa campanha vigorosa de convencimento que enfrente os efeitos nefastos do negacionismo antivacina alimentado pelos obscurantistas bolsonaristas.