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Cabulando aula

Faz bem a USP ao mandar marcar falta de alunos que insistem numa greve que já acabou

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Por Notas & Informações
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A Universidade de São Paulo (USP) tomou medida acertada diante da continuidade de uma minguada greve de estudantes, cujo sentido se perdeu com os compromissos já assumidos pela reitoria. Ao determinar a suas unidades a preservação do cronograma letivo do semestre até 22 de dezembro e ao desautorizar o abono integral das faltas dos discentes durante a paralisação, a USP correspondeu à sua essência como instituição pública de ensino zelosa de seus critérios de formação acadêmica e aos anseios dos que a financiam, os contribuintes paulistas. Com complacência maternal, ainda deixou aos estudantes ociosos a liberdade de escolha entre o retorno às salas de aulas ou a correta reprovação.

Nada mais justo, levando-se em conta uma greve descabida que se arrasta desde 20 de setembro. O dever mínimo de todos os beneficiados pela educação gratuita na única universidade brasileira listada entre as 100 melhores do mundo em dois rankings internacionais é a frequência a 70% da carga horária de cada disciplina. Ainda que, por benevolência, a reitoria tenha adotado um cálculo mais flexível de faltas aos grevistas, os que prosseguirem com a paralisação na semana que vem terão o semestre perdido – um custo não só para eles, como também para a universidade.

Não surpreende que meia dúzia de estudantes persista no caminho da intransigência mesmo depois que a reitoria atendeu à maior parte das reivindicações. É uma turma que encontrou na “greve” o pretexto ideal para cabular aula.

O grupo manteve sua tônica agressiva ao invadir um prédio da Administração Central do campus do Butantã no último dia 26. Não há como apagar da memória da USP as barricadas levantadas para impedir o acesso de colegas e professores às salas de aula em setembro – flagrante desrespeito ao direito constitucional de ir e vir de todo cidadão, à instituição e aos contribuintes. Não obstante, a reitoria rejeitou as hipóteses de intervenção policial e de jubilação dos líderes.

Era legítima a pauta original de reivindicações apresentada pelos estudantes, reiterada pela associação de docentes da USP. Fazia sentido cobrar a contratação de novos professores para ocupar as mais de 800 vagas em aberto nos últimos nove anos. E a reitoria deu razão aos grevistas, assumindo o compromisso de realizar as necessárias contratações, dentro das regras da universidade e dos pré-requisitos acadêmicos.

Mas a coisa saiu do terreno do razoável. Os grevistas, a cada nova exigência atendida, apresentavam uma nova, empilhando reivindicações absurdas e demonstrando, com isso, que a greve havia se tornado somente uma arma para constranger a direção da USP. Era a greve pela greve – que agora só serve mesmo aos propósitos de quem nunca precisou de uma boa desculpa para o gozo do ócio.

Nesse contexto, a USP fez valer sua respeitabilidade acadêmica ao enquadrar estudantes obcecados com uma greve sem sentido. A universidade precisa deixar claro que não tolerará quem confunde liberdade acadêmica e de manifestação com baderna e desrespeito aos colegas, aos professores e à instituição.