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Desigualdade extrema

É vergonhoso que, de um bairro para outro em São Paulo, o tempo médio de vida varie mais de 20 anos

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Por Notas & Informações
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A depender do bairro onde se mora na cidade de São Paulo, o tipo de vida que se leva varia − e muito. São tantas desigualdades econômicas, sociais e de acesso a serviços essenciais, como saúde e educação, que o tempo médio de vida do conjunto de moradores pode oscilar até quase 21 anos, conforme a região ou o distrito. É isso mesmo: mais de duas décadas de diferença, em média, dentro da mesma cidade. Por óbvio, uma situação inaceitável.

Eis a que ponto chega a iniquidade brasileira radiografada na sua maior e mais rica metrópole, segundo o recém-lançado Mapa da Desigualdade de 2022, uma iniciativa da Rede Nossa São Paulo, do Instituto Cidades Sustentáveis. Para quem mora no Jardim Paulista, bairro nobre na zona oeste da capital, a idade média ao morrer é de 80 anos; no bairro Iguatemi, na zona leste, 59,3 anos. Por trás dessa diferença há uma longa lista de disparidades de renda, segurança pública e habitação, entre outras.

O levantamento traz dados chocantes que dão a exata dimensão do fosso que separa a realidade e as condições de vida da população espalhada pelos 96 distritos da capital paulista. Quem se depara com os indicadores dificilmente deixa de sentir um misto de perplexidade, revolta e desalento, tamanhas as disparidades tão bem documentadas e detalhadas. Aqui, porém, reside a força e, quem sabe, a principal contribuição do Mapa da Desigualdade: ao expor o mosaico de possibilidades e privações distribuídas pela cidade, o levantamento aponta caminhos e fornece informações preciosas para que gestores públicos planejem ações, canalizem investimentos e corrijam injustiças.

É disso, afinal, que devem tratar as políticas públicas financiadas com o dinheiro dos contribuintes. O fato de que um bairro tenha melhores escolas ou unidades de saúde com menos tempo de espera para consultas médicas mostra que é possível atender a população e prestar serviços com maior qualidade. Logo, o xis da questão é como replicar, nas demais regiões da cidade, o que já funciona bem em um ou mais bairros.

Nas palavras do coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis, Jorge Abrahão, as soluções existem, e esses exemplos concretos, em funcionamento no próprio Município, devem orientar a atuação dos governantes: “As cidades precisam aprender com elas mesmas, não precisamos buscar exemplos lá fora”, resumiu ele, em recente entrevista para O Globo.

A redução de desigualdades passa pela identificação dos problemas e pela atuação competente do poder público. Foi o que fez a Prefeitura de São Paulo, por exemplo, ao anunciar neste ano o pagamento de bônus salarial para professores que atuam em escolas da periferia − iniciativa elogiada aqui neste mesmo espaço. O incentivo contribuirá, sem dúvida, para atrair e fixar profissionais, impedindo que a elevada rotatividade docente prejudique o funcionamento das escolas. As desigualdades retratadas pelo Mapa de 2022 exigem ações urgentes: o desenvolvimento da maior metrópole do País é capaz, sim, de garantir condições dignas de vida para toda a sua população.