O consumidor brasileiro, em geral, não quer saber quanto desembolsará ao todo na compra de um produto em parcelas a perder de vista. Preocupa-se apenas em saber se a prestação mensal cabe no seu bolso. Esse mesmo cidadão, com toda a certeza, não sabe, e, se sabe, pouco se lhe dá, que ele é quem pagará futuramente pelas bondades do governo sem lastro na realidade econômica. Por exemplo, a desoneração tarifária que fez baixar a conta de luz - tida como uma das razões do crescimento da popularidade da presidente Dilma Rousseff. Mas é assim que o mundo funciona. Na última pesquisa encomendada ao Ibope pela Confederação Nacional da Indústria, realizada pouco depois de ela anunciar, em rede nacional de rádio e de TV, a redução do preço da eletricidade e, adiante, o corte de impostos sobre os produtos da cesta básica, a avaliação positiva do governo chegou a 63%, ante 62% em dezembro. A aprovação pessoal de Dilma - do "seu jeito de governar" - passou de 78% para 79%; a confiança no seu desempenho, de 73% para 75%. Dada a margem de erro de 2 pontos porcentuais da sondagem, um economista diria, talvez, que o prestígio da presidente se mantém estável, com viés de alta. O conjunto dos dados, no entanto, demonstra que essa é uma conclusão insatisfatória. Vistos em perspectiva, os números deixam claro que, nos últimos 12 meses pelo menos, se consolidou a tendência favorável a Dilma na opinião popular. Eis por que o possível candidato tucano ao Planalto em 2014, senador Aécio Neves, saiu-se com um disparate ao dizer que os resultados da pesquisa traduzem um "sentimento momentâneo". A menos que usasse o termo momento à maneira dos físicos (momentum), como sinônimo de impulso, aceleração.Dilma pode comemorar outra proeza - ter ultrapassado o seu patrono Lula pela primeira vez, embora por margem mínima. Vinte por cento dos entrevistados, ante 19% no levantamento anterior, consideram o seu governo melhor que o dele. O contingente que discorda caiu de 21% para 18%, e os que não veem diferença entre ambos são hoje 61%, um aumento de 2 pontos porcentuais. No mesmo período do primeiro mandato de Lula, em março de 2005 portanto, apenas 39% julgavam "ótimo" ou "bom" o seu governo, 41% assinavam a alternativa "regular" e 17% o reprovavam. No boletim de Dilma, as notas são 63%, 29% e 7%.Ao mesmo tempo, a distribuição do apoio a Dilma por classe de renda, nível de escolaridade, local de residência e região geográfica se torna mais parecida com o padrão lulista de popularidade. Entre os entrevistados com renda familiar de até um salário mínimo, por exemplo, a aprovação da presidente passou de 68% para 70%. Já na faixa de 5 a 10 salários, caiu de 66% para 61%. Ela ficou mais popular no interior e nas periferias urbanas do que nas capitais. No Sul, a avaliação positiva caiu de 62% para 60%. No Nordeste, a sua aprovação pessoal alcança 85% - a mais favorável de todas as estatísticas para Dilma e uma inquietante notícia para as aspirações presidenciais do governador pernambucano Eduardo Campos.Seria uma simplificação atribuir os resultados da sondagem à exposição intensiva da presidente na mídia de massa, trazendo boas-novas às mancheias e varrendo para debaixo do tapete os graves desacertos do governo. Os baixos índices de desemprego, os ganhos reais de renda - ainda não neutralizados pela alta dos preços -, a ênfase do Planalto nas políticas distributivas e, quem diria, a imagem simpática que Dilma aprendeu a transmitir se combinam para fortalecer o endosso a ela. Em toda parte, as pessoas aplaudem ou condenam os governantes comparando a situação em que vivem com a em que viviam e que podem creditar (ou debitar) ao governo de turno. Além disso, porque não dispõe de informações que a faça temperar o seu otimismo - ou porque descrê daquelas que lhe são desconfortáveis - a maioria dos brasileiros tende a supor que o futuro será a continuação do presente, bastando manter o atual governo. A natural prevalência na mídia da provedora de benesses aumenta a sensação de contentamento. Até onde chegará esse contentamento se o governo Dilma chegar a ser tão ótimo quanto a população acredita que está sendo?