Imagem ex-librisOpinião do Estadão

É preciso vacinar as crianças

É imperioso que pais levem os filhos para imunizá-los, e que o Ministério da Saúde lidere a conscientização

Exclusivo para assinantes
Por Notas & Informações
Atualização:
2 min de leitura

Em boa hora, como faz desde 1980, o Ministério da Saúde acaba de lançar a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação. Até o próximo dia 9 de setembro, 18 imunizantes contra pólio, sarampo e outras doenças estarão disponíveis em cerca de 40 mil postos no País inteiro. Infelizmente, há famílias que deixam de vacinar os filhos por achar que tais doenças não existem mais ou por acreditar em notícias falsas que questionam a segurança e a eficácia dos imunizantes. Então, é imperioso que as famílias cumpram a sua parte e levem seus filhos para serem vacinados. 

Tão ou mais imperioso, porém, é que o Ministério da Saúde volte a cumprir suas tarefas e assuma seu papel de grande protagonista da vacinação. Que lidere pelo exemplo e intensifique as campanhas de esclarecimento e conscientização sobre a importância das vacinas, além de se antecipar a problemas de produção, importação e distribuição de imunizantes.

Nesse contexto, causa espanto a notícia publicada recentemente no Estadão de que outra importante vacina para bebês tem faltado nos estoques de alguns municípios, a ponto de ser racionada. A chamada BCG protege recém-nascidos contra formas graves de tuberculose e, como alertou a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o ideal é que se atinja pelo menos 90% de cobertura vacinal. Até o início do mês, no entanto, esse índice estava em modestos 55,81%.

É notório que o Ministério da Saúde perdeu o rumo no governo de Jair Bolsonaro, a começar pelo fato de que a pasta teve nada menos que quatro ministros em três anos. Quando o próprio presidente da República nega a eficácia de vacinas, insiste na compra de remédios comprovadamente ineficazes contra a covid-19, caso da cloroquina, e, ainda por cima, dissemina dúvidas sobre a segurança da vacinação das crianças contra o coronavírus, não surpreende que o Ministério da Saúde se comporte à imagem e semelhança do chefe.

Depois de sua atuação desastrosa durante a pandemia de covid-19, o Ministério da Saúde não parece ter se emendado, mostrando-se falho em áreas nas quais o Brasil já foi referência e tem sólida experiência, como é o caso da vacinação de crianças. A diminuição da cobertura vacinal nos últimos anos ameaça trazer de volta doenças já erradicadas há décadas. O caso mais notório é o da poliomielite, ou paralisia infantil, infecção registrada pela última vez em 1989. 

O sucesso no combate à pólio foi tamanho que o Zé Gotinha, personagem que simboliza a vacina contra essa doença, se tornou a marca de toda campanha de vacinação infantil. Agora, após sucessivas quedas no universo de crianças imunizadas, cresce o risco de que essa enfermidade de triste memória volte a assombrar o País.

Não é preciso ser especialista na área para saber aonde essa sequência de baixas taxas de vacinação levará o País. Mais do que nunca, cabe ao Ministério da Saúde estimular os pais a levar seus filhos para tomar a vacina, sem qualquer hesitação relacionada à segurança do imunizante e sem argumentos toscos sobre a “liberdade” de tomá-lo ou não.