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Eletrificação do transporte coletivo

Para ganhar escala, transporte público precisa de regras e infraestrutura padronizadas

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Por Notas & Informações
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Município mais rico do País, São Paulo ingressará em 2024 sob a perspectiva de colocar 2,6 mil ônibus elétricos em circulação na cidade. Até agora, é o maior projeto de descarbonização do transporte coletivo nacional, mas o Brasil ainda está distante do ganho de escala necessário para alcançar metas sustentáveis de mobilidade urbana. O objetivo carece de política pública nacional que incentive a substituição das frotas municipais por veículos que ainda custam, em média, o triplo dos ônibus movidos a diesel.

A liderança de São Paulo entre os municípios brasileiros na busca pela transição energética é natural. Afinal, a cidade já foi apontada pelas Nações Unidas como o quarto maior aglomerado urbano do mundo e figura entre os maiores mercados de transporte por aplicativo, por exemplo. São fatores que elevam o setor de transportes à categoria de maior poluidor do Município, responsável por 51% das emissões, de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa, em contraste com a média nacional, que não chega a 10%.

Como mostrou reportagem do Estadão, a decisão de elevar para 20% a participação de veículos elétricos na frota de 11,9 mil ônibus na cidade de São Paulo desperta o interesse de montadoras por novos investimentos. Mas, para um efetivo ganho de escala nacional, é imprescindível que haja padronização de políticas de infraestrutura, como a de eletropostos, além de regras e metas estabelecidas para todo o território nacional.

Desde setembro tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 4516/23, também batizado de Combustível do Futuro, que prevê programas para o diesel verde, combustível sustentável de aviação e o marco legal da captura e estocagem de CO2. A mobilidade sustentável também passa pela emissão zero do transporte eletrificado. E este segmento só irá em frente no Brasil por meio de incentivos que tornem mais em conta a produção e aquisição dos veículos.

A transformação do transporte público no pilar da transição energética veicular brasileira é a alternativa possível diante da substituição mais difícil, lenta e onerosa da frota de carros de passeio. Atualmente, um carro elétrico não sai por menos de R$ 130 mil, enquanto seu equivalente a gasolina custa pouco mais do que a metade. Sem contar que a própria essência da mobilidade sustentável passa pela adoção do transporte compartilhado.

Dados reunidos pela publicação Desafio – Mobilidade Urbana e Mudanças Climáticas, parceria entre o Cebrap e a Fundação Itaú, mostram que, com seus 4,4 milhões de veículos, São Paulo queima combustível com tal intensidade que levou o Município a figurar entre os cinco maiores emissores de gases poluentes do País. Os outros quatro ficam na Região Amazônica onde, como se sabe, queimadas e desmatamento são as principais causas de emissão de CO2.

A corrida pela transição energética no transporte das cidades brasileiras pede uma mudança de cultura da sociedade e políticas mais eficientes e coordenadas de União, Estados e municípios.