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Emenda para um verso de pé quebrado

Retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima não é resgate de um projeto visionário, como o governo anuncia, e sim uma tentativa de reduzir o prejuízo com o desatino lulopetista

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Por Notas & Informações
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Como uma reprise de um filme ruim, a cerimônia de retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, paralisadas desde 2015, foi marcada por discursos tão grandiloquentes quanto delirantes. Ao ouvir o presidente Lula da Silva cantar as glórias da iniciativa de gastar ainda mais dinheiro numa obra que simboliza a corrupção e a inépcia da era lulopetista, é impossível deixar de lembrar do ufanismo que acompanhou, entre 2005 e 2006, os anúncios de investimentos astronômicos da Petrobras, como a própria refinaria pernambucana e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), dois sumidouros de recursos públicos que viraram símbolos de corrupção.

Havia dois caminhos para a Refinaria Abreu e Lima, que produz menos da metade do que previa o projeto original. O melhor deles, de longe, seria a venda, que chegou a ser tentada, em meados de 2019. Não apareceram compradores, e a pandemia de covid que veio a seguir enterrou de vez as esperanças de atrair investidores. A outra via era concluí-la, para pelo menos reduzir o prejuízo da empresa depois dos quase R$ 60 bilhões despejados na obra.

O que está ocorrendo agora, portanto, é uma tentativa de emendar um verso de pé quebrado, não o resgate de um projeto visionário, como o governo tenta apregoar. Por essa razão, o governo faria melhor se realizasse a retomada das obras sem fanfarra, com a discrição e a modéstia exigidas daqueles que cometeram um erro grave e são capazes de reconhecê-lo. Mas Lula e o PT, claro, nunca erram. De maneira constrangedora, em vez da discrição escolheram o estardalhaço, num comício em que Lula não só anunciou, como se fosse algo positivo, que o Brasil gastaria ainda mais dinheiro num projeto perdulário que nem deveria existir, como o fez atacando o governo anterior, a Lava Jato e as elites. No mesmo tom, Abreu e Lima foi apresentada como “a refinaria do futuro, da virada” pelo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

Nem todo o malabarismo retórico do lulopetismo, no entanto, é capaz de esconder o fato de que dezenas de bilhões de dólares foram consumidos em obras que, quando muito, ficaram pela metade, tornando-se um butim para políticos e executivos corruptos. Os testemunhos dos próprios envolvidos no esquema não deixaram dúvidas sobre a farra inescrupulosa que levou a Petrobras ao centro de um dos mais rumorosos casos de corrupção do mundo.

Mas Lula da Silva não se dá por vencido. Insiste na tese de que o escândalo conhecido como “petrolão” fez parte, na verdade, de “uma mancomunação entre alguns juízes e procuradores (da Lava Jato) subordinados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras”. Sem pudor, voltou a usar a tese de que seu governo e a Petrobras foram vítimas de um grande complô, capitaneado, é claro, pelos “imperialistas estadunidenses”.

Prates anunciou, pela primeira vez, a estimativa de gastos para terminar a obra: R$ 8 bilhões – quase o mesmo valor inicialmente previsto para a obra na época em que foi apresentada pelo então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o principal delator do esquema de corrupção que ajudou a montar na empresa. Costa também alardeava que o projeto representava o estado da arte no setor de petróleo, com o uso de novas tecnologias para refinar tanto o petróleo do pré-sal quanto o venezuelano. A parceria entre Lula e o então ditador da Venezuela, Hugo Chávez, deveria significar o grande salto adiante dos dois países. Chávez, que era esperto, ignorou o acordo e não colocou um tostão na empreitada.

Dezoito anos depois, só restaram um imenso prejuízo e a habitual alucinação patrioteira do lulopetismo. A refinaria, que levou nove anos para entrar em operação parcial, foi descrita pelo atual presidente da Petrobras como “uma máquina maravilhosa”, a mais moderna de todo o continente americano. Será, quando muito, a prova cabal dos estragos que uma ideologia antediluviana é capaz de causar ao País.