Opinião | Câncer: incidência crescente entre os jovens e novos desafios

Estudo aponta aumento de 79% nos casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos nas últimas três décadas. O que fazer para enfrentar essa tendência alarmante?

Por Marcelo Averbach e Pedro Averbach

Imagine receber um diagnóstico de câncer quando você ainda está no ápice da juventude, uma fase da vida que deveria ser repleta de sonhos e planos. Esse cenário preocupante tornou-se mais frequente do que gostaríamos de admitir. Embora tradicionalmente associado a faixas etárias mais avançadas, o câncer agora está emergindo como uma ameaça crescente entre os mais jovens, um fato que merece nossa atenção urgente.

É isso o que aponta um estudo recente publicado no BJM Oncology (*) que trouxe à tona uma tendência alarmante: um aumento de 79% nos casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos nas últimas três décadas.

As mudanças drásticas em nosso estilo de vida e no ambiente desde o início do século 20 estão entre os principais impulsionadores desse fenômeno. O consumo generalizado de alimentos processados e ricos em conservantes, juntamente com o sedentarismo, tornou-se uma característica da vida moderna. A exposição cada vez maior à poluição ambiental, o tabagismo persistente e o consumo de álcool também continuam a desempenhar papéis cruciais na saúde pública. E, para adicionar um aspecto mais complexo a essa equação, cientistas estão investigando minuciosamente se exposições adversas durante a gravidez contribuem para esse aumento preocupante.

Mas o que podemos fazer para enfrentar essa tendência alarmante? Duas abordagens são essenciais: a prevenção primária e a secundária. O câncer colorretal, por suas características biológicas peculiares, exemplifica de maneira notável como a prevenção pode ser eficaz.

Na prevenção primária, o foco recai sobre a minimização da exposição a fatores de risco conhecidos. Evidentemente, há aspectos ainda imutáveis que contribuem para o surgimento dos tumores, como a hereditariedade. No entanto, há vários fatores que é possível modificarmos de modo a reduzir a incidência de câncer. No caso do câncer colorretal, por exemplo, é crucial adotar um estilo de vida saudável. Isso inclui uma dieta rica em fibras, com pouca gordura animal, a prática regular de atividade física e a redução do consumo de álcool e tabaco. O controle da obesidade e da diabetes também deve ser foco de intervenção.

Já na prevenção secundária, o foco muda para a detecção precoce da doença. No caso do câncer colorretal, um exame se destaca: a colonoscopia. Essa técnica não apenas identifica precocemente pólipos, que são lesões precursoras do câncer, como também permite a intervenção antes que se tornem malignos. Além disso, a colonoscopia é uma aliada fundamental para diagnosticar o câncer em estágios iniciais, quando as chances de cura são mais elevadas (**).

Nesse contexto, é fundamental promover a conscientização e a educação sobre os fatores de risco, bem como garantir o acesso a exames de rastreamento eficazes. Além disso, é essencial que iniciativas de saúde reavaliem suas diretrizes de rastreamento para garantir que estejam alinhadas com a realidade atual. Apenas com uma abordagem abrangente que inclua a prevenção em seus diversos níveis e o diagnóstico precoce será possível mitigarmos os efeitos desta nova tendência.

(*) Zhao J., Xu L., Sun J., et al. Global trends in incidence, death, burden and risk factors of early-onset cancer from 1990 to 2019. BMJ Oncology 2023;2:e000049. doi:10.1136/ bmjonc-2023-000049.

(**) Davidson, Karina W., et al. Screening for colorectal cancer: US Preventive Services Task Force recommendation statement. Jama 325.19 (2021): 1965-1977.

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FUNDADORES DA ONG ZOÉ, SÃO, RESPECTIVAMENTE, DOCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU DO INSTITUTO SÍRIO LIBANÊS DE ENSINO E PESQUISA; E CIRURGIÃO COLORRETAL

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