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Hora de cautela

Emprego aquecido, riscos fiscais e incertezas nos Estados Unidos exigem firmeza na política monetária

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Por Notas & Informações
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O momento econômico brasileiro exige cautela monetária. Dados recentes divulgados por órgãos oficiais mostram o aquecimento do mercado de trabalho, com expectativas positivas para o consumo e riscos de pressão inflacionária. Trazer o índice de preços à meta ganha contornos mais difíceis, o que implica firmeza do Banco Central (BC) e prudência do governo Lula da Silva.

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, registrou um saldo positivo de 244.315 vagas formais, com carteira assinada, em março. Pesquisa do Projeções Broadcast com analistas do mercado financeiro estimava 190 mil.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por sua vez, trouxe, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), uma taxa de desemprego de 7,9% em março. Embora tenha registrado três meses de alta – em fevereiro, a taxa ficou em 7,8% –, trata-se do menor indicador para o mês de março em dez anos. O mercado esperava 8,1%.

Os números surpreenderam. Evidentemente, quanto mais empregados e menos desocupados, melhor para o Brasil. Os dados, no entanto, não sugerem afrouxamento das rédeas em um cenário de perene instabilidade interna e sinais externos desafiadores.

A decisão do Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano, de manter as taxas de juros entre 5,25% e 5,5% para levar a inflação à meta de 2% põe o BC brasileiro em alerta. Com juros altos por lá, o Brasil se torna menos atrativo e, por aqui, haverá pressão sobre o dólar, o que impacta os preços.

Confirmada a decisão do Fed, agora os holofotes se voltam ao Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na próxima quarta-feira, dia 8. Espera-se uma nova redução da Selic na magnitude de 0,5 ponto percentual, o que deve levar a taxa básica de juros dos atuais 10,75% ao ano para 10,25% ao ano.

O BC tem uma árdua tarefa pela frente. A inflação oficial fechou março em 3,93%, no acumulado de 12 meses. Apesar de estar dentro da banda, de 1,5% a 4,5% para 2024 – com o centro da meta de 3% –, o índice está mais perto do teto. Para as reuniões futuras do Copom, aguarda-se mais comedimento.

A decisão da agência de risco Moody’s de elevar a perspectiva da nota de crédito do Brasil de “estável” para “positiva” redobra a atenção. Rapidamente, o governo comemorou. O presidente Lula da Silva afirmou que o Brasil “voltou a ter credibilidade”, o que não é verdade. O País ainda se encontra no nível especulativo, muito distante do grau de investimento.

Há poucos dias, Lula da Silva, em um jogo de palavras capcioso, disse que não queria criticar a taxa de juros, mas criticou porque, como disse, “está difícil”. O presidente ataca Roberto Campos Neto, mas ignora que quatro dos nove integrantes do Copom foram por ele indicados. Até agora, as decisões do colegiado têm sido unânimes. Isso mostra que cabe a Lula deixar o BC trabalhar. Da política fiscal, cobra-se responsabilidade de seu governo. Mas aí talvez seja pedir demais.