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Na crise, uso eficiente de energia

Guerra na Ucrânia estimula uso de fontes limpas; a meta de emissão zero até a metade do século parece alcançável

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Por Notas & Informações
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Não foi por altruísmo nem por preocupação com o futuro do planeta, mas o mundo passou a utilizar a energia com mais eficiência em 2022. Menos por inquietação com a qualidade de vida nos próximos anos e mais por aflição com gastos adicionais no presente, em razão da alta dos combustíveis depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, os consumidores usaram fontes limpas e renováveis de energia mais intensamente do que fizeram nos anos anteriores, de acordo com o relatório Energy Efficiency 2022, da Agência Internacional de Energia (AIE). E essa é uma boa notícia. Depois de alguns anos estagnada, a eficiência energética aumentou 2%. Se essa evolução se mantiver nos próximos anos, será possível alcançar, até a metade deste século, a meta de emissão zero de gases de efeito estufa.

Houve em 2022 um “impulso sem precedentes” no desenvolvimento de energias renováveis, em razão de decisões governamentais e dos consumidores de utilizar mais essas fontes como resposta às dificuldades no abastecimento de alguns países, sobretudo da Europa, e da alta generalizada dos preços da energia em razão da crise gerada pela guerra na Ucrânia. Os ganhos observados podem caracterizar uma mudança essencial no uso mais eficiente da energia, depois de anos de progresso muito lento, diz a AIE.

Dados preliminares indicam que os investimentos em eficiência energética – reformas de edifícios, mudanças nos sistemas de transporte público e expansão da infraestrutura para o uso de carros elétricos – alcançaram US$ 560 bilhões em 2022, com aumento de 16% em relação ao ano anterior.

O resultado foi o aumento da eficiência energética, que em 2022 foi quase quatro vezes maior do que o crescimento observado nos dois anos anteriores e quase o dobro da média dos últimos cinco anos. Nos cálculos da Agência, as ações voltadas para a eficiência energética desde 2000 propiciaram a redução de até US$ 680 bilhões nas contas pagas pelos consumidores, ou uma redução de 15% sobre o que se pagaria caso essas ações não tivessem existido.

A história registra reações positivas às crises energéticas, como a observada em 2022 diante dos problemas enfrentados pelos países para a substituição dos derivados antes fornecidos em grande escala pela Rússia. Os choques de petróleo da década de 1970, por exemplo, pressionaram os governos a adotar programas de eficiência energética, com resultados muito expressivos sobre a eficiência de automóveis, eletrodomésticos e edifícios, lembrou o diretor executivo da AIE, Fatih Birol. Observam-se efeitos semelhantes atualmente. Além de propiciar melhores condições para o enfrentamento da crise, a eficiência energética tem “enorme potencial para ajudar a encarar os desafios de acessibilidade energética, segurança energética e mudança climática”, lembrou Birol.

Destaque-se, no entanto, que os avanços no campo energético, como em vários outros, são mais notáveis nos países desenvolvidos do que nos demais. Também em eficiência energética, o mundo está dividido.