Imagem ex-librisOpinião do Estadão

O Brasil andando de lado

‘Monitor do PIB’, da FGV, mostra que taxa de investimento continuou patinando em 2023

Exclusivo para assinantes
Por Notas & Informações
2 min de leitura

O crescimento econômico em torno de 3% projetado para 2023 deverá ser embaciado por uma severa queda, de 3,4%, do investimento nacional, como mostrou o Monitor do PIB, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Uma incômoda constatação de que o Brasil caminha de lado, num momento em que poderia aproveitar a janela de oportunidades global aberta pelo rearranjo do comércio mundial, pelas mudanças geopolíticas e pela transição energética para alicerçar sua relevância econômica.

O baque mais forte (-8,5%) virá do investimento em máquinas e equipamentos, justamente o que aponta a disposição da indústria em empregar capital no aumento e modernização da produção. Ou seja, é o que traça o desempenho futuro. Como é consenso entre economistas, para sustentar um crescimento razoável da economia, em torno de 4% ao ano, o País precisaria assegurar uma taxa de investimento ao redor de 25% por, pelo menos, duas a três décadas.

Nestes últimos 23 anos, o máximo alcançado foi em 2013, com taxa de investimento de 22,8% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). E não há, ao menos por enquanto, perspectiva de mudanças no horizonte. Pelos cálculos da FGV, o ano passado registrou a decepcionante taxa de 18,1%. O saldo ficou abaixo da média verificada desde 2000, que também não chegou a encostar em 20% ao ano.

Apesar de avanços no cenário econômico, como o esforço para a simplificação da estrutura tributária, o Brasil permanece um país muito caro para investir. Como, aliás, reconheceu o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, em reunião recente com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O diagnóstico é amplamente conhecido. O peso do custo Brasil sobre a atividade também.

Apesar disso, 2023 registrou crescimento acima do inicialmente previsto em razão, como é notório, da excepcional contribuição do agronegócio, especialmente na primeira metade do ano. Este início de 2024, principalmente por causa de problemas climáticos, não está repetindo a mesma façanha, o que torna ainda mais premente a adoção de uma política industrial que, de fato, sustente o crescimento – e não um soluço fruto de intervenções estatais e projetos megalômanos, mas sim o desenvolvimento de uma base de prioridades em infraestrutura, além do respeito à segurança jurídica e à responsabilidade fiscal, por parte do Estado. E, por óbvio, cumprimento das reformas que possam, enfim, reduzir o custo Brasil.

Os dados oficiais sobre a evolução da economia no ano passado serão conhecidos somente no início de março, quando for divulgado o resultado do PIB de 2023. Para antecipar tendências, o estudo da FGV usa as mesmas fontes de dados e a metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo.

O resultado oficial não deve diferir da prévia. O que se espera é que a evolução futura represente, enfim, um crescimento econômico que reflita uma confiança real na economia.