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O incrível Juscelino

Acumulam-se suspeitas sobre o ministro, que já deveria ter sido demitido há muito tempo

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Por Notas & Informações
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Talvez o presidente Lula da Silva considere Juscelino Filho seu melhor ministro. Só isso explica por que razão o sr. Juscelino continua no cargo de ministro das Comunicações, mesmo tendo sobre ele diversas e robustas suspeitas de malfeitos.

No caso mais recente, noticiou-se que a Polícia Federal (PF) constatou que duas de suas emendas parlamentares, quando era deputado federal, favoreceram uma empreiteira da qual ele é o verdadeiro dono.

A investigação da PF aponta que Antonio Tito Salem Soares, proprietário da empresa destinatária das emendas, a Arco Construções e Incorporações, não passa de um testa de ferro do atual ministro das Comunicações. A firma foi beneficiada por contratos de obras bancadas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) na prefeitura de Vitorino Freire (MA), governada por Luanna Freire, irmã de Juscelino. O ministro disse ao Estadão não ter nada a ver com a empreiteira, criada no mesmo ano em que ele entrou no Congresso como deputado. Restará brigar na Justiça contra as evidências colhidas.

O caso da propriedade da empreiteira Arco coroa uma série de estripulias de Juscelino no uso de recursos públicos para obras no seu reduto eleitoral, em benefício próprio e de seus familiares. O esquema desvendado pela PF, entretanto, mostra-se bem mais amplo e ramificado. No organograma aparecem a estatal Codevasf, há muito conhecida como o celeiro do Centrão para suas políticas eleitoreiras, várias empresas cujos donos eram ligados a Juscelino e a prefeitura de Vitorino Freire, onde brotam obras superfaturadas.

As duas emendas de Juscelino Filho permitiram a recuperação e a pavimentação de uma estrada vicinal que, sem causar assombro, liga o povoado de São João do Grajaú às porteiras das fazendas do ministro e de seus familiares, caso que foi revelado por este jornal. Não à toa, o Supremo Tribunal Federal atendeu a um pedido da PF e bloqueou os bens do ministro das Comunicações em setembro passado.

A sobrevida de Juscelino no Ministério das Comunicações causa especial estranheza quando comparada à facilidade com que o presidente Lula da Silva se desvencilhou de três colaboradoras – sobre as quais não pesavam dúvidas sobre a integridade e a competência – para ceder seus cargos ao Centrão.

Faz tempo que esperar por uma eventual condenação do atual ministro pela Justiça deixou de ser opção para o presidente agir. Já em janeiro, o sr. Juscelino havia dado motivos para sua demissão, ao usar um avião da Força Aérea Brasileira para participar de um leilão de cavalos. Depois, soube-se que o ministro empregou o piloto de sua aeronave particular e o gerente de seu haras, em Vitorino Freire, como funcionários de seu gabinete na Câmara. Agora, aparecem mais suspeitas de favorecimento pessoal no direcionamento de emendas parlamentares. Ou seja, a cada dia que Lula mantém Juscelino Filho em sua equipe, mais forte se torna a mensagem de que o presidente, em nome de sabe-se lá qual imperativo, é conivente com a malversação de recursos públicos.