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O MTST não tem limites

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Por Redação
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Cauteloso no começo e cada vez mais desenvolto à medida que vai obtendo seguidas e importantes vitórias, dobrando autoridades à sua vontade, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) está mostrando a sua verdadeira face e o tamanho de suas ambições. Isso ficou claro nos últimos dias, tanto com declarações esclarecedoras de seu coordenador nacional, Guilherme Boulos, como com as reivindicações que começaram a ser apresentadas nas manifestações promovidas quarta-feira em São Paulo. Manifestações é uma forma de dizer, porque na verdade o que os militantes do MTST voltaram a fazer é algo bem diferente - bloqueio de vias importantes, cerco e invasão de prédios. Tudo isso para reivindicar - vejam só - melhorias no serviço de telefonia móvel na periferia da capital, onde está a maior parte dos terrenos por eles invadidos, e também para tentar "negociar" com a construtora Even, proprietária de um terreno, no Morumbi, ocupado por cerca de 500 pessoas. Ações que se enquadram perfeitamente no que disse Boulos em entrevista ao Estado - que o MTST "não é um movimento de moradia", mas "um projeto de acumulação de forças para mudança social".No primeiro ato, cerca de 800 pessoas bloquearam todas as faixas no sentido centro da Estrada do M'Boi Mirim, entre 5 e 7 horas. Por volta das 8 horas, 700 manifestantes chegaram ao Largo da Batata, em Pinheiros, e dali seguiram pelas Avenidas Faria Lima, Juscelino Kubitschek e Luiz Carlos Berrini, atravancando o trânsito na região, normalmente já difícil a essa hora. Às 9 horas pararam em frente ao prédio da Oi, na Avenida Cardoso de Melo, no Itaim-Bibi. Atos semelhantes foram feitos diante de escritórios de outras empresas de telefonia - Tim, Vivo e Claro. Nesta última, um grupo de 180 pessoas arrombou o portão e invadiu o escritório. Também o escritório regional da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) foi ocupado por algum tempo. Além da melhoria do serviço de telefonia móvel na periferia, o objetivo dos manifestantes foi pedir a reestatização do sistema Telebrás, privatizado em 1998. Segundo a coordenadora estadual do MTST, Natália Szermeta, "coincidentemente, o acesso à telefonia funciona mal ou não existe onde moram os sem-teto e quem não tem dinheiro". O que vem fazer, nesse caso, a reestatização - foi a privatização que, diga-se de passagem, permitiu a rápida difusão da telefonia móvel, que favoreceu todas as camadas sociais - é algo que só pode ser explicado por incontroláveis motivações ideológicas.Quanto à entrada do MTST no ramo da telefonia móvel - a grande novidade -, um outro coordenador do movimento, Joel de Oliveira, esclareceu que a sua pauta principal continua sendo a moradia, "mas ninguém mora sem saúde, educação e outros itens". A seguir nesse passo, a pauta de reivindicações do MTST será tão ampla quanto a dos principais problemas do País. Que a população se prepare, portanto, para manifestações infindáveis.Na mesma linha foi, como era natural, Guilherme Boulos, respondendo a uma pergunta sobre a diversificação da atuação do movimento: "Os trabalhadores sem-teto enfrentam esses problemas (de telefonia) diariamente, assim como vocês. É um problema generalizado e o MTST não faz luta apenas por moradia". Num ponto, ele tem razão - a telefonia móvel não é o que deveria ser e isso afeta todo mundo. Mas é fácil de imaginar a confusão que aconteceria na cidade, se todos os outros prejudicados resolvessem agir da mesma maneira irresponsável que o MTST.Mas o MTST, Boulos e seus companheiros não estão nem aí para isso. O que lhes interessa, como deixou claro Boulos, é "acumular força para mudança social". E é inegável que até agora estão conseguindo fazer isso. Não só porque são bem organizados e determinados, como, principalmente, porque contam com a complacência das autoridades - tanto municipais como estaduais -, temerosas, em especial nesse período eleitoral, de parecer repressoras e politicamente incorretas. É por isso que a polícia assiste passivamente às estripulias do MTST.