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O protesto dos caminhoneiros

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Por Redação
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De concreto, os caminhoneiros que vêm bloqueando estradas em diversos Estados - em protesto contra o aumento dos combustíveis e a baixa remuneração de seus serviços, entre outros motivos - só estão conseguindo violar a liberdade de locomoção de muitos brasileiros, provocar desabastecimento e paralisar indústrias por falta de matéria-prima ou de meios para escoar a produção. De sua confusa e contraditória pauta de reivindicações, terão atendidos muito poucos itens, se algum o for, pois seus problemas - reais, reconheça-se - não se resolvem com decisões administrativas. São consequência da crise econômica: falta carga para transportar.Sem solucionar os problemas dos caminhoneiros, os bloqueios criam imensas dificuldades para outros brasileiros. Já falta combustível em diversas localidades do Paraná. Indústrias em diferentes Estados estão reduzindo o ritmo de operação, porque estão ficando sem matéria-prima e componentes, retidos nos bloqueios. Para os caminhoneiros, a interrupção do fluxo nas estradas resultará em mais problema, como a necessidade de defender-se nas ações abertas na Justiça pela Advocacia-Geral da União em sete Estados pedindo a liberação das estradas bloqueadas para assegurar aos cidadãos o direito constitucional de ir e vir.O movimento começou sem alarde, há alguns dias, com manifestações de caminhoneiros autônomos do sudoeste do Paraná, que protestavam contra o aumento do diesel e pediam um preço mínimo por quilômetro rodado. No início, os bloqueios se limitavam a alguns trechos no Paraná da BR-163, rodovia que, com essa denominação, se estende do Pará ao Rio Grande do Sul, servindo importantes regiões agrícolas do Centro-Oeste e do Sul.Logo o movimento se espalhou. Na segunda-feira, havia bloqueios em pelo menos oito Estados. Em Minas, a Rodovia Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo, foi bloqueada em cinco pontos. Nos bloqueios, os manifestantes retêm os caminhões, mas permitem a passagem de ambulâncias, ônibus e automóveis. Mesmo assim, formaram-se filas de até 19 quilômetros.Os caminhoneiros não têm uma pauta única de reivindicações. Os do oeste do Paraná e de Santa Catarina relacionaram, entre as exigências, a fixação do frete por quilômetro rodado, prazo de carência de seis meses a um ano nos financiamentos de veículos de carga, aposentadoria integral para os motoristas profissionais com 25 anos de contribuição, redução do preço dos combustíveis e sua indexação ao preço internacional do barril de petróleo.Em boa parte, são reivindicações indefensáveis. Caminhoneiros e outros consumidores nada disseram sobre a relação entre o preço interno dos combustíveis - severamente comprimido pelo governo durante anos - e o do petróleo quando este custava mais de US$ 100 o barril (hoje custa cerca de US$ 60). Tabelamento de preços não funciona numa economia livre e desorganiza o setor no qual ele é aplicado. Aposentadorias especiais geram privilégios que o contribuinte não tem mais condições de pagar.O grande problema dos caminhoneiros decorre da crise. Em agosto de 2014, as rodovias pedagiadas do País registraram o pior fluxo de veículos pesados em dois anos. Os dados consolidados do ano passado, compilados pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, mostram um aumento de 2,4% no número de veículos que passaram pelos pedágios, mas essa alta se deve à movimentação de veículos leves, sobretudo automóveis. Já o fluxo de veículos pesados diminuiu 2,6% em relação a 2013.A queda no movimento de veículos de carga resulta da redução dos pedidos de frete, causada pelo declínio da produção industrial e da desaceleração do comércio. A massa salarial continua a crescer, sustentada pelo aumento do rendimento real médio, o que estimulou o tráfego de veículos de passeio, daí o aumento no movimento total nas rodovias.De que adianta tabelar o frete se falta carga? A alta do combustível apenas tornou agudo um problema que os caminhoneiros já vinham enfrentando.