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O sonho virou frustração

Pesquisa que dimensiona abandono de curso superior revela um misto de desamparo e decepção

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Por Notas & Informações
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É alarmante o número de brasileiros que ingressam no ensino superior, mas desistem do curso antes da formatura. De acordo com o Mapa do Ensino Superior no Brasil, elaborado pelo Instituto Semesp, 55,5% dos alunos que entraram na faculdade em 2017 não concluíram o curso em 2021. Cinco anos após o ingresso, só 26,3% haviam se formado; 18,1% ainda assistiam às aulas.

A evasão escolar é um problema grave em todos os níveis de ensino, provocando danos em série, nos planos individual e coletivo, em cada etapa do processo de aprendizagem. No caso do ensino superior, uma evasão nesse patamar ainda priva o País de se desenvolver como polo produtor de conhecimento científico, sem o qual estará condenado a um crescimento pífio, quando muito.

São diversas as causas para a alta evasão do ensino superior. Vão desde o despreparo dos estudantes para acompanhar as aulas, dadas as conhecidas carências nos ensinos fundamental e médio, até a distância que separa grande parte deles de sua vocação, por total incapacidade material de prosseguir nos cursos desejados. “Muitas vezes, a pessoa quer estudar Arquitetura, mas faz Pedagogia a distância porque é o que cabe no bolso”, disse ao Estadão o diretor do Instituto Semesp, Rodrigo Capelato.

Embora a desistência seja maior em instituições privadas (59%), a evasão escolar não é menos preocupante no ensino superior público (40,3%). Isso indica que a falta de condições econômicas para permanência nos cursos, que afeta tanto os alunos que pagam mensalidades como os que dispõem do ensino gratuito, pode ser uma das principais causas da evasão.

A questão vocacional pode ser mitigada com o suporte aos estudantes em etapas anteriores ao ingresso na faculdade, mas a permanência desses jovens no ensino superior depende fundamentalmente de uma conjuntura macroeconômica tal que a necessidade de procurar emprego em tempo integral, para sustento próprio ou complementar a renda familiar, não compita com a conclusão do curso.

Ademais, é preciso que o estudante faça o curso não porque é o mais barato ou porque lhe dará supostamente um pedaço de papel que, segundo imagina, é uma espécie de passaporte para o mercado de trabalho – mentalidade que se consolidou durante os governos do PT –; o estudante deve ser estimulado a buscar os cursos que atendam a sua vocação, e isso não acontece necessariamente numa universidade. Com frequência, essa vocação é mais bem atendida num curso técnico – mais curto, mais barato e mais flexível que a maratona universitária.

De volta à Presidência, é hora de Lula da Silva, que se diz tão preocupado com o futuro das novas gerações, criar as condições para que o País cresça de forma sustentável, pois só isso permitirá que cada cidadão tenha a liberdade de decidir o que fazer da própria vida – a começar pela escolha do melhor caminho para seu desenvolvimento educacional e profissional.