Muito se fala na falta de qualidade da educação brasileira e na grande quantidade de alunos que não atingem níveis adequados de aprendizagem. Mas há outra tragédia silenciosa que sela destinos e retarda o desenvolvimento do País: a evasão escolar. Um estudo recém-lançado pelo Serviço Social da Indústria no Rio de Janeiro (Firjan Sesi), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), reuniu dados que mostram os efeitos perversos da evasão no ensino médio.
Há prejuízos de todo tipo. Mesmo com a universalização do acesso ao ensino fundamental, milhares de adolescentes abandonam a escola ao longo do caminho − e o problema se torna ainda mais grave no ensino médio. A evasão aumenta justamente no 1.º ano daquela etapa, como se existisse um fosso intransponível para muitos adolescentes que terminam o ensino fundamental e não conseguem avançar.
O estudo Combate à evasão no ensino médio: desafios e oportunidades informa que 500 mil jovens acima dos 16 anos largam os estudos anualmente. Não surpreende que apenas 7 em cada 10 brasileiros concluam essa última etapa da educação básica até os 19 anos, índice que deixa o Brasil atrás de países latino-americanos como a Costa Rica, a Colômbia e o Chile.
A baixa escolaridade, como se sabe, causa perdas individuais e coletivas, contribuindo para a diminuição da empregabilidade, das perspectivas salariais, da produtividade e da mobilidade social. Sem falar nos impactos negativos em áreas como saúde e segurança pública. A partir de metodologia desenvolvida pelo economista Ricardo Paes de Barros, o estudo estimou que o Brasil ganharia R$ 135 bilhões por ano caso elevasse a taxa de conclusão do ensino médio para o mesmo patamar do Chile, onde 9 em cada 10 jovens completam essa etapa até os 24 anos.
A evasão reproduz a profunda desigualdade do País, ao penalizar os mais pobres com mais intensidade: entre os 20% mais ricos da população, a probabilidade de um jovem concluir o ensino médio é de 94% − mais que o dobro do índice de 45% registrado na faixa dos 20% mais pobres, segundo a publicação da Firjan Sesi. A evasão tem múltiplas causas, desde a baixa qualidade do ensino até a repetência, passando pela necessidade de trabalhar para complementar a renda da família. O relatório chama a atenção também para o “desencanto” com a escola e a “desconexão” entre o currículo e a realidade dos estudantes.
Tal diagnóstico remete à realidade que deu origem à reforma do ensino médio, cuja implementação foi equivocadamente suspensa pelo Ministério da Educação (MEC). É evidente que o modelo anterior de organização curricular do ensino médio não atendia às necessidades da juventude e produziu uma situação que precisa ser superada − a começar pela redução da evasão, um dos grandes dramas da educação brasileira. O panorama traçado pelo estudo da Firjan Sesi é inequívoco e aponta para a necessidade de fazer da escola um lugar menos desinteressante, e certamente mais amigável, aos estudantes.