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Pantanal em chamas, de novo

Focos de incêndio no bioma crescem 1.000% e só agora o governo Lula da Silva diz que vai agir

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Por Notas & Informações
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Precisou o fogo no Pantanal registrar crescimento de mais de 1.000% nos cinco primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2023 para o governo Lula da Silva decidir, enfim, criar uma sala de situação para a prevenção e o controle de incêndios. A medida, porém, mostra-se insuficiente, em razão da letargia com que a reação foi apresentada e de dúvidas que pairam sobre a capacidade efetiva da gestão petista para enfrentar o problema.

Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o primeiro semestre denunciam o perigo que se avizinha no Pantanal. O principal temor – não sem razão – é que os incêndios repitam a tragédia de 2020, quando foram consumidos nada menos do que 26% da vegetação e 10 milhões de animais morreram. À época, o Brasil e o mundo assistiram perplexos à destruição.

As chamas hoje avançam em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. As imagens de labaredas ou de árvores e animais incinerados voltam a ocupar o noticiário. Os alertas vêm sendo feitos por autoridades locais, especialistas e imprensa, enquanto o governo federal, em particular o Ministério do Meio Ambiente, com Marina Silva à frente, se arrasta. Só negligência ou incompetência explicam o atraso na execução de um plano.

Avisos se impõem há meses. Desde o fim do ano passado, o Pantanal estava em alerta, em razão do baixo volume de chuvas. Uma resolução da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), de maio, colocou a Bacia do Rio Paraguai em escassez hídrica. Mato Grosso do Sul e Mato Grosso declararam emergência no bioma. É no segundo semestre, com previsão de temperaturas acima da média – o que agrava a situação –, que chegará a estiagem ao Pantanal.

Para piorar, a seca intensificada pelo El Niño, combinada com a ação humana – acidental ou criminosa –, coloca em risco os outros biomas brasileiros, com exceção do Pampa, onde as chuvas mostraram a força dos extremos climáticos. Pinta-se um cenário muito cinza.

Marina Silva havia abordado o recrudescimento da situação do Pantanal no Dia do Meio Ambiente, em 5 de junho, quando o governo assinou pactos – pelo visto limitados – contra incêndios florestais. O plano firmado com Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Amazonas e Pará prevê planejamento e ações integradas de prevenção e combate aos incêndios no Pantanal e na Amazônia. Vale lembrar que o governo Lula da Silva havia sido alvo de críticas no ano passado pela tibieza no enfrentamento de queimadas na Amazônia. A ineficiência, portanto, é recorrente.

Enquanto governos locais correm para empreender esforços contra o fogo, alteram regras de autorizações de queimadas e esperam por ajuda, o governo Lula da Silva patina na discussão de ampliação de recursos e da simplificação para contratação de brigadistas, equipamentos e aeronaves. Sem foco na prevenção, o combate claudica. Vê-se, assim, que todo o prenúncio da crise não foi capaz de mover as autoridades federais com a celeridade que a seca e os incêndios exigem, apesar do palavrório lulopetista em defesa da pauta ambiental. Tempo para preparo não faltou, mas sobrou omissão.