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Razão e sensibilidade

O pânico não é bom conselheiro. O combate à violência nas escolas, que tanta angústia tem causado, requer sensibilidade, inteligência e, sobretudo, responsabilidade

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Por Notas & Informações
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Brasil afora, incontáveis mães e pais estão em pânico após os episódios de violência extrema em escolas de São Paulo e Santa Catarina. A disseminação de boatos sobre a ameaça de novos ataques, graças à ganância e à irresponsabilidade criminosa de empresas de tecnologia como o Twitter, entre outras, só faz aumentar o desespero de todos os que têm filhos em idade escolar.

O medo e a sensação de impotência desses pais, sentimentos que levaram muitos deles a suspender a ida de seus filhos às escolas, são absolutamente legítimos diante de circunstâncias tão dramáticas. Afinal, não há quem não se apavore apenas por pensar na perspectiva de ter um filho assassinado enquanto brinca com os amigos no pátio da escola ou assiste às aulas em uma manhã qualquer.

O que é inaceitável é a exploração desses sentimentos por quem, ainda que não tenha a intenção, sucumba à lógica do terrorismo, propondo soluções simples – e erradas – para um problema que é sabidamente complexo.

É muito tentadora, por seu forte apelo às emoções parentais, a ideia de subir muros, instalar detectores de metal ou distribuir seguranças armados pelos pátios escolares. Mas essas são medidas que, quando muito, só oferecem um conforto momentâneo para corações aflitos. A sociedade precisa ser engajada em um debate honesto sobre soluções duradouras para o problema, sem reducionismos.

Na contramão da abordagem simplista, o presidente Lula da Silva mobilizou seu governo na direção que este jornal considera ser a correta para o enfrentamento da violência nas escolas. Lula determinou que o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, organize uma reunião no próximo dia 18 envolvendo ministros, os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal, todos os governadores e representantes dos prefeitos. O objetivo do encontro é realizar o que o presidente chamou de “reflexão nacional” sobre os ataques nas escolas e estudar como cada ente pode contribuir para evitar novos ataques e acalmar a população.

A união entre as cúpulas dos Poderes e os entes federativos demonstra o acerto da dimensão dada pelo governo ao problema da violência nas escolas. Também é correto o diagnóstico de que as saídas dependem de uma abordagem responsável e multidisciplinar da questão. Ao Estadão, Rui Costa enfatizou que “não se trata só de uma questão policial, de segurança, mas de algo muito mais complexo”. No Estado de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito da capital, Ricardo Nunes, demonstraram ter a mesma compreensão de que a solução do problema da violência nas escolas passa pela promoção de uma “cultura de paz” e de ações preventivas, como o reforço do atendimento psicossocial à comunidade escolar, entre outras medidas.

A violência nas escolas, de fato, não é algo que se resolva distribuindo agentes armados intra ou extramuros. Ao contrário: mais armas podem provocar mais mortes. Fortificar instituições de ensino deturpa o papel do ambiente escolar na formação dos pequenos cidadãos. Ademais, as ameaças, na esmagadora maioria dos casos, estão dentro das próprias escolas e não raro escapam do radar de pais, professores e psicólogos.

Crianças e adolescentes escondiam seus medos, raivas, angústias e decepções em diários de papel, ao abrigo de olhos curiosos. Há muito, isso ficou para trás. Hoje, raros são os jovens que não expõem suas intimidades nas redes sociais. Portanto, é possível monitorá-los e avaliar comportamentos que fujam do padrão. Nesse sentido, chamar as empresas de tecnologia à responsabilidade é chave para a solução do problema. De acordo com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, as redes sociais serão cobradas por “proatividade” na identificação e remoção de conteúdos que estimulem a violência. Longe de ser a única, trata-se de medida de suma importância para evitar novos massacres nas escolas, pois a exposição é uma das forças motrizes dos extremistas homicidas.

O pânico nunca é um bom conselheiro. O bom combate à violência nas escolas requer sensibilidade, inteligência e, principalmente, responsabilidade.