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Renovação pela direita no Equador

Equatorianos optam pela renovação e elegem Guillermo Lasso para a presidência

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Por Notas & Informações
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O biênio de 2021-22 será um teste para a democracia na América Latina. Em 2019, as populações de diversos países foram às ruas indignadas com a corrupção, os serviços públicos ineficientes, a desigualdade social e a estagnação econômica. Em 2020 o vírus represou os protestos. A região foi a mais impactada do mundo, tanto do ponto de vista sanitário quanto econômico. Agora, o teste para a capacidade de renovação das forças políticas começou com o primeiro turno no Peru e o segundo turno no Equador. 

Além desses países, Chile – que acaba de eleger uma Assembleia Constituinte –, Honduras e Nicarágua realizarão eleições nacionais em novembro. Em 2022 será a vez de Brasil, Colômbia e Costa Rica. El Salvador realizou eleições legislativas; México e Argentina realizarão no segundo semestre.

No Equador, o candidato de direita, Guillermo Lasso, venceu Andrés Arauz. “Equatorianos, todos vocês”, disse Lasso, “escolheram um novo caminho – um caminho muito diferente daquele que o Equador seguiu pelos últimos 14 anos.” O novo presidente se referia aos governos esquerdistas de Rafael Correa (2007-17) e seu sucessor, Lenín Moreno. Como outros líderes da “onda rosa”, Correa aproveitou o ciclo das commodities para robustecer programas sociais, mas deixou o país polarizado e endividado. “O sr. Moreno era uma continuação do sr. Correa e o sr. Arauz seria uma continuação dos dois.” 

Lasso conseguiu uma virada notável. Com 20% de votos no primeiro turno, ele reverteu um déficit de 13 pontos porcentuais para vencer com mais de 52% – as pesquisas apontavam a sua derrota. Católico tradicionalista, Lasso é visto por muitos como representante-padrão do establishment. Embora tenha Margaret Thatcher entre seus modelos, ele garante que não propõe o neoliberalismo. “Proponho uma administração pública eficiente que promova o investimento, gere empregos, e através do crescimento econômico gere receita para o Estado.”

Muitos eleitores dizem que Lasso ganhou a simpatia do público por sua história de vida. Aos 65 anos, o ex-executivo da Coca-Cola e sócio de um dos maiores bancos do país é um milionário. Mas ele vem de uma família de classe média baixa, o mais jovem de 11 filhos, e começou a trabalhar aos 15 anos para pagar as mensalidades escolares.

A experiência de duas derrotas eleitorais também contou. “Ele mudou completamente a estratégia. Ao invés de atacar Correa e Arauz, tentou transmitir uma mensagem de inclusão e alcançou setores da sociedade que normalmente não votariam nele, como a comunidade LGBT”, disse a analista política equatoriana Johanna Andrango. “Ele começou a usar o TikTok. Cerca de 40% do eleitorado no Equador é de millennials e centennials e ele os alcançou.”

Sua agenda é ambiciosa. A economia encolheu 7,8% em 2020 e estima-se que crescerá 3,1% em 2021. Lasso promete recuperar 700 mil empregos perdidos na pandemia e gerar mais 1,3 milhão de empregos, sobretudo na indústria de petróleo. Segundo Lasso, com investimentos internacionais, a produção no Equador pode dobrar. É uma aposta alta para um país com 17 milhões de habitantes cuja produção de petróleo tem se mantido no mesmo patamar há anos – tanto mais que Lasso garante que não aumentará impostos.

O mercado se mostrou favorável. Arauz pretendia renegociar as dívidas com o FMI e era um crítico da manutenção do dólar americano como moeda nacional. Lasso disse que continuará a utilizar o dólar e descartou um calote.

“Meu objetivo é déficit zero – absolutamente zero”, disse ao Financial Times. “O círculo vicioso no qual o Equador está é ‘déficit, dívida, déficit, mais dívida’ e a longo prazo jamais sairemos disso. Para o Equador criar empregos é preciso resolver o problema fiscal, e isso se faz aumentando a receita do petróleo e controlando os gastos.” 

O tempo dirá se ele conseguirá implementar essa mescla de austeridade e produtividade. Desde já, ao optar pela renovação, rejeitando as tentações populistas e o vale-tudo eleitoral, o Equador deu um pontapé inicial positivo no ciclo eleitoral latino-americano.