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Sinal verde para a economia verde

Como mostra série de reportagens do ‘Estadão’, Brasil tem tudo para avançar nesta rota, mas precisa de arcabouços regulatórios, infraestrutura, força de trabalho e ambiente de negócios

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Por Notas & Informações
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O Brasil tem uma oportunidade única de compatibilizar os dois elementos-chave do desenvolvimento sustentável: preservação ambiental e prosperidade socioeconômica. Segundo reportagem do Estadão, a mola propulsora da descarbonização da economia global – a transição das tecnologias energéticas baseadas em combustíveis fósseis para as renováveis – dá ao País a chance de criar 6,4 milhões de empregos (14,6% das vagas com carteira assinada hoje) e aumentar o PIB em US$ 100 bilhões (4,7% do valor atual).

A reportagem que mapeia oportunidades de transição energética inaugura a série Economia Verde. Serão seis capítulos semanais até maio, explorando iniciativas com potencial de colocar o Brasil na dianteira da nova economia global, do hidrogênio verde a práticas sustentáveis do agronegócio; do mercado de carbono até a revolução nos meios de transporte e oportunidades de mineração sustentável.

O País tem ativos ambientais únicos: a maior floresta tropical do mundo, 20% da biodiversidade e 12% das reservas de água doce. O Brasil é um dos países que teriam menos dificuldades e custos para zerar suas emissões de carbono até 2050. Ao contrário de outras nações, no Brasil o principal responsável pelas emissões é o desmatamento. O País já possui uma legislação florestal de ponta e basta aplicá-la para eliminar esse entrave. O Brasil supre pelo menos 10% da demanda mundial de alimentos e pode produzir muito mais sem derrubar florestas: a produtividade do agro segue aumentando e há mais de 80 milhões de hectares de terras degradadas convertíveis à agricultura.

A propósito da energia, o Brasil tem áreas de dimensões continentais abundantemente servidas por água, vento, luz solar, biomassa e metais cruciais para a transição energética, como lítio, cobre e níquel. O País tem condições materiais de se tornar um exportador de hidrogênio verde e aproveitar a expertise com o etanol para explorar matérias-primas como macaúba e soja para exportar biocombustíveis.

Enquanto boa parte do mundo precisa trocar o carvão por fontes limpas, o Brasil já tem 48% de sua matriz energética ligada a fontes renováveis, sobretudo hídricas, enquanto a média mundial é de 15%. No mundo, o setor de energia responde por 70% das emissões de gases de efeito estufa. No Brasil, são 17%.

Na hipótese de zerar suas emissões até 2050, estima-se que os investimentos em energia limpa no País possam gerar 3,8 milhões de empregos e US$ 34 bilhões a mais no PIB. Mas, mais do que zerar, o Brasil tem condições de ter emissões negativas e vender créditos de carbono. Nesse cenário otimizado, as projeções sobem para 6,4 milhões e US$ 100 bilhões.

Como disse ao Estadão o CEO da Bosch na América Latina, Gastón Diaz Perez: “Há várias opções para a descarbonização. Cada uma delas é uma carta. Muitos países tem uma só carta. O Brasil tem o baralho completo”. Mas esse jogo está longe de estar ganho. As matérias-primas estão à mão, mas só serão aproveitadas com políticas públicas que garantam bons arcabouços regulatórios, infraestrutura, incentivos à pesquisa e desenvolvimento, qualificação da força de trabalho e um ambiente de negócios atrativo.

Um exemplo de uma área que precisa ser saneada é a sedimentação de subsídios onerosos e injustificáveis para a indústria energética (a de renováveis, mas, sobretudo, de fósseis) que pesam sobre o custo da energia para o consumidor. E há falsos dilemas no debate público que precisam ser desmoralizados, como explorar ou não novas reservas de petróleo. A aposentadoria dos fósseis não será disruptiva, mas gradual, e não se fará pela redução da oferta, e sim da demanda, tão logo haja fontes alternativas baratas e eficientes. As receitas do petróleo podem ser canalizadas para financiar essas alternativas e outras atividades compatíveis com o desenvolvimento sustentável, tanto na área ambiental quanto na social.

No caso dos ativos ambientais do Brasil, o lugar comum do “berço esplêndido” é real. O desafio é utilizar esse potencial para superar outro lugar comum, também real até demais, o do “gigante adormecido”.