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Um fôlego para a Amazônia

Redução no desmatamento melhora a imagem do Brasil; sustentar o ritmo ainda é desafio

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Por Notas & Informações
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[CAPI-OPI]A[/CAPI-OPI] queda do desmatamento na Amazônia a níveis pré-Bolsonaro, anunciada a poucos dias da Conferência do Clima (COP 28) de Dubai, tem o dom de lapidar a imagem do Brasil no encontro internacional, a despeito dos estragos expostos pela estiagem e incêndios na região, potencializados pelo El Niño mais rigoroso dos últimos anos. Pela primeira vez, desde 2019, o patamar de desmate reportado ao mundo equivale a uma área abaixo dos 10 mil km². Um troféu ainda modesto, é verdade, mas que, ao menos, comprova o freio ao desmoronamento ambiental promovido pela gestão anterior.

<CW4>A redução de 22% do desmatamento em 12 meses, constatada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é o resultado de uma equação que combina o avanço de 54% entre agosto e dezembro de 2022 com a queda de 42% de janeiro a julho de 2023. Um saldo que dá à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, cacife extra no governo Lula e fôlego maior nas discussões internacionais. Ciente disso, a ministra fez questão de atribuir o resultado positivo às ações de fiscalização e combate a ações irregulares na floresta e, claro, dividir os louros com Lula da Silva.

</CW>É inegável que a imagem do Brasil em relação ao monitoramento da Amazônia Legal mudou para melhor. Mas não a ponto de diminuir o impacto das imagens recentes de devastação das áreas atingidas pelos mais de 80 mil focos de incêndio que correm o mundo. Para angariar confiança internacional, o governo brasileiro terá de comprovar meticulosamente que a meta de desmatamento zero até 2030 é factível. Afinal, embora tenha diminuído, 9 mil km² de área desmatada ainda é muita coisa.

Para zerar – apenas na Amazônia, sem contar outros biomas importantes, como o Cerrado – seria necessário, no mínimo, manter a mesma intensidade de redução ano a ano pelos próximos sete anos, um trabalho que inclui não apenas combate, mas prevenção. É esse caráter sustentável que vai definir o peso no País na comunidade internacional, não apenas no aspecto ambiental, mas especialmente nas iniciativas econômicas que dependem de uma posição mais firme do Brasil na questão da sustentabilidade, que tem sido uma exigência – ou uma desculpa – usada de forma corrente para atrasar acordos comerciais, como o da União Europeia com o Mercosul.

A contenção da degradação florestal é, decerto, um dos pontos positivos a serem celebrados. É de extrema importância a mostra que o governo está dando de que ficou para trás a época de assistir passivamente à destruição da Amazônia. A própria sobrevivência do Inpe esteve sob ameaça durante o governo bolsonarista. Mas, como disse ao [BOLD]Estadão [/BOLD]a ex-presidente do Ibama Suely Araújo, os esforços para elevar o ritmo de contenção dos desmates dependem de novas medidas e colaboração parlamentar. É muito difícil fechar essa conta com a fragilidade política do Executivo no Congresso. E, como é inviável impor soluções, o caminho é buscar a elaboração conjunta de propostas, trazendo ao debate Estados, municípios, Câmara e Senado.