Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Um monumento à incúria

É humilhante para São Paulo conviver há tantos anos com o esqueleto da Linha 17-Ouro do Monotrilho

Exclusivo para assinantes
Por Notas & Informações
2 min de leitura

Se rigorosamente nada mais der errado, o que, diante do histórico assombrado do projeto, é algo bastante improvável, a Linha 17-Ouro do Monotrilho, que ligará o Aeroporto de Congonhas à Estação Morumbi, da Linha 9-Esmeralda da CPTM, deverá entrar em operação no primeiro semestre de 2026, com nada menos que 12 anos de atraso. Essa é a mais nova promessa do Palácio dos Bandeirantes.

Concebida como uma das principais obras do Estado na área de infraestrutura de mobilidade urbana para a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, a Linha 17-Ouro do Monotrilho, com sorte e boas doses de competência e espírito público, poderá transportar o primeiro passageiro a tempo de outra Copa do Mundo, só que a cerca de 9 mil km de distância: a que será sediada pelos Estados Unidos, Canadá e México daqui a três anos.

No dia 22 passado, o governador Tarcísio de Freitas rompeu o contrato com as construtoras Cosan e KPE, celebrado em 2021 pelo então governador João Doria justamente para que as obras fossem retomadas após o consórcio formado por Andrade Gutierrez e CR Almeida tê-las abandonado por rompimento unilateral com a administração pública. Segundo o Metrô, o consórcio Cosan-KPE atrasou o cronograma de execução das obras e não demonstrou, no prazo estabelecido pelo governo estadual, capacidade financeiro-operacional para concluir o projeto.

Diante de mais esse revés, o futuro da Linha 17-Ouro do Monotrilho segue incerto. Sobre a mesa de Tarcísio de Freitas estão três opções: realizar uma nova licitação; repassar o contrato para o consórcio Paulitec-Sacyr, terceiro colocado no certame original; ou transferir a execução da obra para a ViaMobilidade, do Grupo CCR, empresa contratada para operar a linha, não para construí-la.

Cada uma dessas alternativas implica sérios riscos às empresas – que teriam de continuar obras que não iniciaram e, mesmo assim, submeter-se aos riscos globais do projeto – e para a administração pública, especialmente a terceira opção, que envolve o risco jurídico pela mudança de objeto de contrato, uma violação evidente da Lei de Licitações.

Há quase uma década, a única certeza é que aquele esqueleto da obra se ergue do chão como um monumento à incúria e uma zona de insegurança na cidade. O Estado mais rico da Federação, polo de atração de alguns dos melhores profissionais do País nos campos da Engenharia, do Direito e da Contabilidade, ser incapaz de concluir uma obra no prazo previsto já seria, por si só, escandaloso; com esse atraso, chega a ser humilhante. Decerto, cada um dos governadores de São Paulo que já tiveram que lidar com o projeto tem uma variedade de boas desculpas para explicar o inexplicável atraso. Mas nenhuma delas muda a qualidade de vida dos cidadãos para melhor.

Durante a campanha de 2022, o então candidato Tarcísio de Freitas enumerou entre suas prioridades “acabar as obras que ficaram pelo caminho”, entre as quais a construção da Linha 17-Ouro do Monotrilho. Eis uma chance de ouro para que o atual governador possa se distinguir de seus antecessores recentes.