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Uma chance para avançar

Brasil terá de correr muito para sair do pelotão dos grandes perdedores

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Por Redação
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Enquanto se discute se a economia brasileira crescerá 1,1%, 1,2% ou 1,6% no próximo ano, depois de dois anos de recessão, a maior parte do mundo avança – alguns países com firmeza, outros com alguns tropeços, mas todos deixando para trás a crise iniciada em 2008. Mesmo com alguma reanimação nos próximos meses, o Brasil terá de correr muito, nos anos seguintes, para sair do pelotão dos grandes perdedores. Na maior potência global a era do grande desemprego está superada há bom tempo.

Entre fevereiro de 2010 e julho deste ano foram abertos 15 milhões de postos de trabalho nos Estados Unidos. Só neste ano foi mais de 1,3 milhão. A desocupação em julho permaneceu em 4,9% da força de trabalho americana. De junho para julho a produção industrial americana cresceu 0,7%, segundo estimativa publicada na terça-feira passada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). Foi mais que o dobro da taxa prevista por economistas consultados pelo Wall Street Journal. Dia a dia se torna mais provável um aumento de juros nos Estados Unidos ainda neste ano, como afirmou o presidente regional do Fed em Nova York, William Dudley.

Se o aumento ocorrer, será uma notícia ruim para países, como o Brasil, classificados no grau especulativo pelas principais agências de avaliação de risco. Juros mais altos na maior economia resultam em maior dificuldade de acesso aos financiamentos no mercado internacional. Esse é um motivo a mais para o governo brasileiro implementar um programa rigoroso e crível de recuperação das contas públicas, o ponto mais fraco da economia nacional. Para isso, o Executivo dependerá da capacidade de percepção dos congressistas e de sua disposição de ajudar no conserto das finanças governamentais. Essa disposição se tem manifestado muito raramente.

A recuperação da economia internacional deveria ser uma boa notícia para o Brasil. Maior atividade nos maiores mercados normalmente resulta em maior demanda de importações e, portanto, de oportunidades para os países preparados para competir. Por enquanto, a boa notícia é apenas uma possibilidade. Como o crescimento ainda é insatisfatório em muitas economias, é preciso levar em conta o risco de maior protecionismo comercial – tema de um alerta lançado nesta semana pelo governo chinês.

Mesmo insatisfatório, o desempenho econômico dos países europeus tem sido bem melhor que o do Brasil. Em junho, a produção industrial na zona do euro foi 0,6% maior que a de maio e 0,4% superior à de um ano antes. Na União Europeia o número foi 0,5% em cada uma das comparações. Em junho, a indústria brasileira produziu 1,1% mais que no mês anterior, mas 6% menos que no mês correspondente de 2015. No semestre, o resultado ficou 9,1% abaixo do contabilizado um ano antes.

Segundo a última previsão do mercado, incluída no boletim Focus do Banco Central, a produção industrial do Brasil deve diminuir 5,95% neste ano e crescer 0,75% no próximo. Confirmado esse número, a atividade da indústria continuará muito abaixo da estimada para 2013. Ainda será preciso avançar muito para recobrar o espaço perdido depois das quedas de 3% em 2014, de 8,2% em 2015 e de mais de 5% em 2016.

Alguns sinais animadores no meio de um quadro muito ruim têm melhorado, segundo as sondagens, o humor dos empresários. De julho para agosto o índice de confiança do empresário industrial subiu 4,2 pontos e atingiu 51,5. Números acima de 50 apontam expectativas otimistas. Desde abril o indicador aumentou 14,7 pontos. Isso se explica em boa parte pela percepção, alimentada por sinais ainda fracos, de se haver chegado ao fundo do poço.

Mas a mudança é também atribuível à expectativa de encerramento do desastroso governo da presidente Dilma Rousseff. A importância dessa expectativa tem sido realçada, em várias ocasiões, por analistas do mercado financeiro e de consultorias. Liquidado o processo de impeachment, haverá um enorme trabalho para repor o País em movimento. Mas a chance de realização desse trabalho será muito maior.