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Vitória da ciência

Há 3 anos o País entrava no mapa da covid; 700 mil mortos depois, começamos a sair dele por causa da vacina

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Por Notas & Informações
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Há exatos três anos, em 26 de fevereiro de 2020, o Brasil confirmava seu primeiro caso de covid-19: um morador de São Paulo que regressara dias antes de uma viagem à Itália. Depois disso, o País mergulhou na tragédia de hospitais cheios, pacientes agonizantes e famílias em luto por mortos que totalizam hoje quase 700 mil. Infelizmente, as consequências da pandemia se farão sentir por muito tempo. Mas o período de UTIs lotadas, escolas fechadas e isolamento social ficou para trás − como bem ilustram as imagens do carnaval de rua deste ano.

Isso só foi possível graças à vacina, verdadeiro divisor de águas na história da covid-19. Eis um fato inconstestável e uma lição a ser repetida exaustivamente nestes tempos em que ondas de desinformação semeiam dúvidas quanto à segurança e à eficácia dos imunizantes. As vacinas estão entre os maiores avanços da humanidade na área da saúde, e seus resultados contra a covid-19 reforçam tal constatação.

De acordo com a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford, já foram aplicados mundialmente mais de 13 bilhões de doses contra o coronavírus, com efeitos impressionantes. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime Barbosa, afirmou ao Valor que se trata da “vacinação em massa que mais salvou vidas na história da medicina”. Um marco até mesmo na rapidez com que os cientistas desenvolveram o imunizante.

No Brasil, em face da desídia do governo federal à época, coube ao governo paulista liderar o esforço na busca da vacina − um feito digno de reconhecimento. Vale recordar que o então presidente Jair Bolsonaro dava voz ao negacionismo científico, promovendo aglomerações, desdenhando do uso de máscaras e recomendando remédios ineficazes. Bolsonaro chegou ao cúmulo de desestimular a imunização, um mau exemplo que contrariava a tradição brasileira de respeito pela vacinação em geral.

A vacina foi aplicada pela primeira vez no País em 17 de janeiro de 2021, na cidade de São Paulo. Dois anos depois, 186 milhões de habitantes já tomaram uma dose, número que cai para 169 milhões na segunda dose ou dose única − e que está em 104 milhões no caso da primeira dose de reforço, despencando para 42 milhões na segunda dose do reforço, conforme dados do Vacinômetro do Ministério da Saúde. Ora, isso significa que dezenas de milhões de pessoas ainda correm riscos desnecessários. É um dado preocupante e desafiador.

Em boa hora, o Ministério da Saúde decidiu retomar as campanhas nacionais de vacinação que fizeram o País dar saltos de cobertura nas últimas décadas. A primeira terá início amanhã, com a aplicação da vacina bivalente, capaz de combater não só a cepa original do coronavírus, mas também variantes como a ômicron.

Tão importante quanto a campanha de vacinação em si, é fundamental que haja uma robusta campanha de esclarecimento, uma vez que o obscurantismo bolsonarista ainda faz seus estragos. Restabelecer a confiança plena nas vacinas é um dos maiores desafios que a sociedade brasileira deve enfrentar.