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‘A nossa sorte é que o procurador é meu professor na faculdade, cara’, diz suspeito de elo com PCC

Ministério Público de São Paulo resgata diálogos do pagodeiro Latrell Brito com ‘Beto Guarujá’ e mapeia novos personagens de prefeituras e câmaras de vereadores que estariam ligados a infiltrados da facção em esquema de fraudes a licitações que superam R$ 200 milhões

Foto do author Pepita Ortega
Foto do author Fausto Macedo
Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:
Trecho de diálogo da Operação Munditia Foto: MPSP

Após denunciar à Justiça o núcleo político de uma quadrilha de infiltrados do PCC em esquema de fraudes a licitações em prefeituras e câmaras de vereadores, o Ministério Público de São Paulo deu início ao cruzamento de informações do celular do pagodeiro Vagner Borges Dias, o Latrell Brito. Apontado como ‘cabeça’ da organização que agia a mando da facção, Latrell está foragido desde o dia 16. Ao vasculhar seus contatos, os promotores descobriram movimentos importantes de servidores públicos - além de três vereadores que já estão presos - que teriam envolvimento com a rede sob ordens do PCC.

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Os diálogos do pagodeiro com um certo ‘Beto Guarujá’ citam um policial e um procurador, supostamente municipal, que agora estão na mira dos promotores.

Em uma troca de zaps com o pagodeiro, em agosto de 2022, ‘Beto Guarujá’ diz. “A nossa sorte é que o procurador é meu professor na faculdade, cara, eu estou tentando aqui deixar tudo redondo, pelo amor de deus, a gente não pode deixar nenhum buraco, entendeu? Vai dar certo.”

Menções ao policial e ao procurador foram identificadas em várias conversas entre Latrell e ‘Beto Guarujá’. Em julho de 2021, ‘Beto Guarujá’ sugeriu ‘dar uma ajuda para o polícia’ que, segundo ele, estava ‘cobrando aqueles do ano passado ainda’. “O mais rápido possível aí que não aguento mais enchendo o saco”, afirmou.

Em outro contato, ‘Beto’ voltou a cobrar Vagner, de forma incisiva, mas sem citar o nome do suposto policial a que se refere. “Eu não gosto de ficar cobrando você porque eu sei como está a tua vida aí. Mas Vagner me ajuda aí, cara, desce aí, a do Polícia aí para mim, cara, por favor, preciso muito esse cara aí da do ano passado, pô, as do ano passado desse aí, é só 30 mil que a gente deve para ele. Vamos tentar pagar ele aí, por favor, cara, ele tá me cobrando aqui.”

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Trecho de diálogo da Operação Munditia Foto: MPSP

No dia seguinte, o tema voltou à pauta e Beto insistiu por um auxílio para cobrir o ‘atrasado do polícia’. “Eu estou precisando muito da ajuda dele lá no BO lá da Câmara, que a gente vai pegar que eu tô precisando muito dele lá, ele tá dando uma força para a gente”, rogou.

Em novembro daquele ano, ‘Beto Guarujá’ pede a Vagner que ‘transfira o seu e o do menino lá, o do polícia’, para ficar tudo ‘quites’.

A Promotoria também pegou diálogos com o mesmo teor datados de agosto de 2022. ‘Beto Guarujá’ pede para que o pagodeiro envie ‘alguma coisa para ele dar para o polícia’. “Ele está me enchendo o saco, cara e não sei, vê o que tu pode mandar aí, eu enrolo aqui, cara, pelo menos que chegou alguma coisa e aí eu ganho mais algum tempo ou ele... Ele está enchendo o saco, porque realmente, ele tem que pagar a formatura lá que eu já tinha prometido para ele.”

Trecho de diálogo da Operação Munditia Foto: MPSP

Vagner respondeu com um áudio, dizendo que mandaria o dinheiro. Ele explica que ‘entrou R$ 200 mil’ mas teria de pagar ‘240 de VA’. “Eu liberei o VÁ, deixa entrar uma notinha, daí eu já vou mandar, vou matar isso aí, dessa semana não passa”, diz o pagodeiro do PCC.

Também em agosto de 2022 uma conversa com citação ao ‘procurador’. Beto diz que ‘o problema é o procurador, é convencer o procurador’. “A nossa sorte é que o procurador é meu professor na faculdade, cara, eu estou tentando aqui deixar tudo redondo, pelo amor de deus, a gente não pode deixar nenhum buraco, entendeu? Vai dar certo.”

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