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Opinião|Agenda ESG e o comprometimento corporativo no capitalismo de stakeholders

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Atualização:
Késya Luciana do Nascimento Silva Vasco. Foto: Divulgação

A chegada de novas tecnologias e a massificação do acesso à internet inegavelmente trouxe uma nova consciência ao consumidor, que como destinatário final do produto passou a ser mais exigente, ter mais informações sobre seus direitos e das ofertas existentes, sobre a marca da qual se procura e, principalmente, se a empresa fornecedora está preocupada com o meio socioambiental o qual está inserida.

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Observando tais mudanças, o setor empresarial começou a perceber a necessidade da implementação de uma Política Integrada de ESG, do inglês Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança). Criado em 2006, o termo ESG tem origem na própria Organização das Nações Unidas (ONU), em documento que propunha que as empresas fossem avaliadas não apenas com relação aos lucros que elas dão, mas pela capacidade de serem sustentáveis. O escopo do documento era conscientizar o setor empresarial de que não é apenas o lucro que deve ser observado dentro de uma corporação, mas também o impacto positivo que aquela empresa causa dentre os seus colaboradores quando se preocupa com qualidade de vida, saúde mental e desenvolvimento profissional por exemplo, bem como o impacto ambiental desta na sociedade.

Nesse sentido, o desenvolvimento sustentável de uma empresa, segundo o documento da ONU, vai além de simplesmente trazer lucro aos acionistas, mas de oferecer um leque de oportunidades de desenvolvimento a seus colaboradores, de cumprir seu papel social na contratação de fornecedores comprometidos com a visão global, bem como de manter uma política de contratação inclusiva e com respeito as diversidades, além de preocupar-se com o meio ambiente ao qual está imerso, visando sempre o aproveitamento dos recursos ambientais também para as gerações futuras.

Outro fator que contribui para a mudança de mentalidade do setor empresarial é a edição da Agenda 2030 da ONU, um plano de ação global criado a partir de um acordo firmado em 2015 pelos 193 Estado-membros da organização. A agenda conta com 17 objetivos de desenvolvimento sustentável e 169 metas, instituídos com o escopo de erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, dentro das condições que o nosso planeta oferece e sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações, as empresas passam a modificar sua visão nas áreas social, ambiental e econômica, visando obter um desenvolvimento sustentável.

A partir disso, as empresas entenderam que, na hora de comprar um produto, o consumidor tem dado mais atenção a uma mercadoria comercializada por uma empresa que se preocupa com o meio ambiente e com o social, e elabora ações que visam por exemplo: avaliar eventual impacto ambiental para extração dos insumos utilizados para a fabricação de seus produtos, implementar políticas de contratação de funcionários respeitando a inclusão e a diversidade.

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Sob essa nova ótica, as empresas são "compelidas" a repensar e modificar seus modelos de negócios com foco no desenvolvimento sustentável, ao passo que a busca incansável pelo lucro deixa de ser o padrão aceitável no mercado, e a participação de todas as partes interessadas no negócio torna-se a grande virada de chave fazendo com que as empresas passem a criar valor a longo prazo promovendo o bem-estar social, o chamado capitalismo consciente ou capitalismo de stakeholders.

Nesse novo modelo dentre as partes interessadas no processo, estão os governos do qual tem a missão de gerar prosperidade para uma maior quantidade de pessoas possível; a sociedade civil, com planos de promoção de interesse social; as empresas privadas com o objetivo de gerar superavit econômico que pode ser mensurado em lucros no curto prazo e gerando valor a longo prazo; e a comunidade internacional com o escopo de principalmente preservar a paz através das organizações internacionais (ONU, entre outras e as regionais União Europeia e outras).

Atrelado a todo esse contexto, há que se considerar que os efeitos causados pela Pandemia da Covid-19 no mundo acelerou a necessidade de participação integrada de todas essas partes no processo produtivo de empresas de todos os ramos, fazendo com que corporações dos mais variados setores adiantassem a implantação de políticas integradas que gerassem valor a longo prazo trazendo bons resultados aos negócios além de alinhar seus valores aos quatro pilares do ESG: os princípios de governança, as pessoas, o planeta e a prosperidade.

Na atual conjuntura, não há que se olvidar sobre a necessária adequação das empresas aos novos aspectos sobre o desenvolvimento sustentável, dando cada vez mais ouvidos a todas as partes interessadas no processo a fim de construir uma agenda corporativa de boas práticas socioambientais uma vez que a indústria de ESG está cada vez mais em ascensão do ponto de vista financeiro.

O tema é tão importante na área de investimentos que a Bolsa de Valores a B3, detém um índice exclusivo só para empresas que tenham um compromisso com a sustentabilidade, é o chamado ISE B3. Prova disso é que a US Business Roundtable, grupo de lobby empresarial mais influente dos Estados Unidos, já anunciou que adotaria formalmente o capitalismo de steakholders. O resultado disso é a atração de investidores cada vez mais preocupados em investir em empresas que tenham ações efetivas de responsabilidade socioambiental.

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Além disso, a geração atual não tem interesse em trabalhar, investir ou comprar empresas que tenham o perfil exclusivamente de maximizar os lucros sem a criação de um valor que compreenda a preocupação com a sustentabilidade socioambiental.

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As empresas que alcançaram essa nova visão de mercado precisaram rever suas métricas e implantar indicadores relacionados ao que propõe a Agenda ESG, com implantação de frameworks sugeridos como por exemplo na contida na Prática Recomendada da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) a NBR ABNT PR 2030. O texto apresenta conceitos, diretrizes e recomendações nos eixos ambiental, social e de governança com vistas a facilitar a implantação da Agenda ESG nas empresas.

*Késya Luciana do Nascimento Silva Vasco, advogada, sócia e presidente do Comitê de Recursos Humanos do Escritório Rueda & Rueda Advogados. Bacharela em Direito pela UniNassau. Especialista em Processo Civil Contemporâneo pela UFPE. MBA em Compliance e ESG (cursando) pela Unicap, membro da Comissão de Compliance e Combate à Corrupção da OAB/PE

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