De onde vem a inovação? Já parou para pensar nisso? A resposta é: a inovação vem das pessoas. Pessoas criativas. Pessoas colaborativas. Pessoas que não se conformam com o chamado status quo.
A inovação é o produto mais genuíno do desejo humano de fazer diferente, de fazer melhor. E não há como desenvolver qualquer tecnologia sem que existam pessoas pensando como ela irá funcionar e a qual propósito servirá.
E por falar em tecnologia, é neste campo que os avanços têm se mostrado cada vez mais abrangentes e acelerados. Praticamente todas as áreas da atividade humana têm sido alcançadas e impactadas, em maior ou menor grau, pelo avanço tecnológico. Esta nova realidade vem transformando o trabalho, as interações sociais, os sistemas produtivos, as relações de consumo e também a maneira como administramos os negócios e as instituições.
O número crescente de empresas de tecnologia - principalmente das chamadas startups, empresas jovens e inovadoras, com grande potencial - que operam em diversos segmentos é um indicativo claro deste novo cenário. Exemplos não faltam. Na atividade rural, as chamadas agritechs proliferam, ajudando a elevar os níveis de produtividade do agronegócio. Na saúde, healthtechs auxiliam profissionais da medicina a realizar diagnósticos mais precisos, planejar tratamentos mais eficazes e salvar mais vidas. Govtechs criam soluções que permitem aos gestores inovar na administração pública.
O avanço tecnológico é inexorável. Não há como escapar à sua magnitude e impacto transformador. É um fenômeno que vem ocorrendo em todas as áreas, e o Direito não é exceção.
As chamadas legaltechs são empresas e startups que desenvolvem tecnologia e soluções inovadoras para o ecossistema da Justiça. No Brasil, a AB2L-Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs, entidade que congrega estas empresas, já conta com mais de duzentas legaltechs associadas.
Facilitar a realização de acordos, simplificar o acesso a dados de processos, acelerar a localização de informações e aumentar a produtividade de escritórios de advocacia e departamentos jurídicos são alguns dos benefícios que essas legaltechs estão trazendo. Para os advogados, o tempo para a realização das tarefas torna-se otimizado. Os departamentos jurídicos ganham em produtividade com softwares de acompanhamento e gestão. Dados e fatos embasam melhores decisões e a construção de estratégias mais assertivas. Conflitos podem ser resolvidos de forma mais rápida.
Todas estas tecnologias servem para modernizar e potencializar a advocacia, não para substituí-la. São soluções que automatizam tarefas, em boa parte burocráticas, morosas e repetitivas, proporcionando maior eficiência aos advogados e permitindo que estes se dediquem à estratégia, atenção aos clientes, planejamento e gestão e também, cada vez mais, à inovação. A grande questão é que para isso é preciso que o trabalho seja conjunto - profissionais do direito apoiados e potencializados pelas novas tecnologias. Saliente-se, contudo, que o exercício do direito deve sempre preservar e valorizar o ser humano como elemento central, pois não se pode postular uma frívola mecanização das relações sob o pretexto de inovar.
O fato é que há grandes oportunidades surgindo para os advogados, mas para isso, como ensina Alvin Toffler, o profissional do século 21 precisa estar constantemente aprendendo, desaprendendo e reaprendendo. Num país como o Brasil, em que tramitam mais de 80 milhões de processos, a tecnologia tem muito a contribuir. E a sociedade, que tanto pode se beneficiar de uma justiça mais célere, só tem a ganhar com este sopro de inovação e tecnologia que está cada vez mais presente neste novo cenário do Direito.
*Marcos Florão, diretor de Inovação e Novos Negócios da Unidade de Justiça da Softplan
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