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Opinião | Aventuras aeroportuárias de um gaúcho sem aeroporto

Depois do atraso em Miami e de uma longa espera com a conexão perdida no RJ, finalmente cheguei em Florianópolis, o fim da linha para os gaúchos que estão desprovidos de aeroporto

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convidado
Por Fernando Goldsztein

Acabo de chegar dos EUA. Até aí, nada demais, não é mesmo? A menos que o viajante more no Rio Grande do Sul. Pois, para quem não sabe, Porto Alegre está sem aeroporto desde a tragédia climática de maio. E, infelizmente, assim vai ficar, no mínimo até Dezembro.

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Viajar de avião passou a ser uma epopeia para os gaúchos. Existem parcas opções nas proximidades (Canoas e Caxias do Sul), mas está impossível conseguir lugar nos aviões. A solução tem sido voar via Florianópolis, que está a 500 km de distância.

A minha volta para casa, desta vez, foi um verdadeiro périplo. O roteiro era composto por três voos desde Washington DC até Florianópolis (com conexões em Miami e no Rio de Janeiro).

Ao fazer o check-in em Washington, tive o primeiro contratempo. Estava com 7,5 kg de excesso de peso. A funcionária da companhia aérea, que tinha cara de “poucos amigos”, anunciou que haveria uma multa de 300 dólares. A alternativa seria eu me livrar do excesso. Como pagar aquela exorbitância não estava nos meus planos, disse a ela que tentaria transferir alguns quilos para minha mala de mão, que estava vazia.

Por recomendação da sisuda funcionária, fui retirando os itens da mala e colocando-os na balança. Dois livros, um par de tênis, o saco de roupa suja e pronto, cheguei à marca dos 7,2 kg. Foi quando a funcionária resmungou: “Falta pouco”. Olhei para ela incrédulo. Sei que os americanos, ao contrário da nossa cultura do jeitinho, costumam respeitar as regras, mas faltava apenas 0,3 kg! Eu não sei se o meu olhar a assustou ou a sensibilizou, mas o fato é que ela cedeu naqueles 0,3 kg e despachou a minha mala. Ufa!

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Ao chegar em Miami, percebi que meu voo para o Rio de Janeiro estava atrasado, o que faria eu perder a minha conexão para Florianópolis na manhã seguinte. Lá fui eu para a fila de atendimento para ver como resolver a questão. Admiro os funcionários que atendem os clientes que perderam conexões ou tiveram seus voos cancelados. Pois, precisam ter muita paciência e controle para atender clientes que, normalmente, estão estressados e, às vezes, perdem as estribeiras.

Na minha frente estava sendo atendido um casal de jovens italianos, o Francesco e a Vittoria. Estavam tensos. Vinham de São Domingo, no Caribe, com destino a Napoli, na Itália. Suas conexões eram em Miami e Londres e haviam perdido o voo para a capital inglesa. A questão é que não falavam uma palavra em inglês e nem se viravam no espanhol (a língua oficial de Miami). Acompanhei todo o suplício e tentei ajudar como pude. Foram encaixados no último minuto num voo via Madrid...

Finalmente, depois de uma longa espera, eu estava prestes a embarcar no portão D28 rumo ao Brasil quando fui abordado por uma senhora apavorada. Ela também não falava inglês. Disse que a chamavam no alto-falante, mas não sabia para onde ir. Estava completamente atordoada. No seu cartão de embarque estava claro: portão D60. Expliquei como chegar lá, mas a angústia dela era tanta que suplicou: “Venha comigo, por favor”. Fiquei comovido e quase fui, mas perderia o meu embarque. Reforcei a explicação e a encorajei a ir o mais rápido possível. Ela saiu em disparada. Não sei o nome dela nem nunca saberei se ela realmente conseguiu embarcar naquele voo.

Depois do atraso em Miami e de uma longa espera com a conexão perdida no RJ, finalmente cheguei em Florianópolis, o fim da linha para os gaúchos que estão desprovidos de aeroporto. E, apesar de exausto com tantos voos, conexões e experiências, ainda foi necessário dirigir por seis horas ao longo de 500 km até Porto Alegre. Não está nada fácil a vida dos gaúchos...

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Fernando Goldsztein
Fundador do The Medulloblastoma Initiative Conselheiro do Children’s National Hospital. Foto: Marcos Nagelstein/Estadão
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