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Opinião|Chegou a vez de Deodoro

convidado

Fiel servidor de Pedro II, o magnânimo e erudito Imperador do Brasil, Deodoro da Fonseca não hesitou em liderar o golpe que lhe subtraiu o poder e exterminou o reinado. Mas o triunfo teria curta duração. Deodoro veio a ser deposto em 23 de novembro de 1893, quatro anos depois da “proclamação” da República.

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A Marinha liderara o motim. A insatisfação chegara ao povo, que foi convocado a comparecer ao Arsenal e a evidenciar seu descontentamento. E a população atendeu. Sempre há populacho pronto a participar de manifestações.

A psicologia social explica o comportamento da multidão. Em Direito Penal, aprende-se o conceito de “crime multitudinário”. Aquilo que poderia inibir um comportamento individual, não encontra barreiras quando a vontade de um se apoia na vontade dos demais.

Foi assim que grande número de cariocas marchou aquela manhã para o Paço Municipal, onde se proclamaria a destituição de Deodoro. As portas estavam abertas e ele já deixara a sede do nascente governo republicano.

Foi Licínio Cardoso, antigo oficial do exército imperial, professor das Escolas Politécnicas e que se tornaria médico famoso, e naquele momento um dos mais exaltados, que propôs a redação de uma ata de deposição do Presidente Marechal Deodoro.

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Mal iniciada a elaboração do documento, chega o Intendente Municipal Coronel Carneiro da Fontoura, que assumiu a presidência da reunião e convidou Rodrigo Octávio a secretariá-la. Na verdade, foram redigidos dois documentos. Aquele iniciado por Licínio Cardoso e o resultante da ata escrita por Rodrigo Octávio. Ambos foram conservados por este, que os reconstitui no livro “Minhas Memórias dos outros”.

O resultante do punho de Licínio Cardoso diz: “Reune-se neste edifício o Povo confraternizando com a Armada e com o Exército Nacional para proclamar a deposição do Marechal Deodoro que está fora da lei e proclamar também o Governo da Legalidade na pessoa do Vice-Presidente da República, General Floriano Peixoto. Assinam: Licínio Athanasio Cardoso, Emilio Victor de Lima, Jayme Carlos da Silva Telles, Antonio Moniz de Aragão, Deocleciano Martyr, J.C. da Silva Veiga, Francisco Bolonha, Francisco José Diniz, Sizinio da Rocha Dias, Manoel Henrique de Sá Filho, Antonio O. de Oliveira, Zeferino Velloso da Silveira Pontual e João Evangelista Barreto d’Oliveira.”

Já o documento da lavra de Rodrigo Octávio diz: “Chegando à Intendência o Sr. Coronel Fontoura, ao meio dia, declarou que tendo sido chamado pelo cidadão Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto, este lhe encarregara de tomar a responsabilidade dos negócios municipais e o povo subiu acompanhando o Coronel Fontoura à sala das sessões da Municipalidade. Aí o Coronel Fontoura quis sentar-se na cadeira onde, durante catorze meses, defendeu os direitos e interesses dos munícipes e da municipalidade; o povo, porém, convidou-o a tomar assento na cadeira presidencial”.

Intendente e o novo Presidente foram saudados pelo Dr. Cândido Barata. E assim, Floriano Peixoto passou a ser o segundo Presidente da República do Brasil. Durara pouco a aventura de Deodoro, a quem hoje se atribui ter sido levado à deposição do Imperador pela força das circunstâncias. Até então, fora um devotado admirador das excepcionais qualidades do homem que sempre se pautou com a mais escorreita honestidade. Era notável por seus hábitos austeros. Por seu amor pela Pátria e pela cultura.

Um visionário, Pedro II logo se apropriava de tudo o que a ciência e a tecnologia ofereciam o aprimoramento do convívio. Foi adepto da fotografia e do telefone. Interessava-se pela história universal. Conheceu boa parte do mundo. Prestigiava o talento. Estimulava crianças e jovens a persistirem no estudo. Patrocinava, com recursos próprios, cursos no exterior para jovens promissores. Muitos dos maiores pintores brasileiros se valeram de sua generosidade e o caso mais icônico foi o de Carlos Gomes.

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Respeitadíssimo na comunidade internacional, chegou a ser eleito Presidente dos Estados Unidos em dois estados americanos, ao tempo em que o eleitorado podia escolher quem bem quisesse, desnecessárias as candidaturas.

Esse o governante de que o Brasil abriu mão e expulsou, para instaurar a República. Teria sido acertada tal escolha.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo de Mudanças Climáticas de São Paulo
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