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Com os pés em Brumadinho, 121 dias depois

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Por Maria Carolina Cristianini
Atualização:
Maria Carolina Cristianini. FOTO: DASHA HORITA Foto: Estadão

Acompanhar à distância a tragédia em Brumadinho, mesmo que com a intensidade necessária para a cobertura jornalística dos fatos, em nada se compara à experiência de estar na cidade. Apesar dos mais de 120 dias decorridos do rompimento da barragem, o cenário encontrado pelas ruas continua sendo de desolação.

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A bruma recorrente da manhã, que inspirou o nome da agora famosa cidade, se mistura ao sentimento de tristeza a cada conversa travada por onde quer que se vá.

Parece não haver - e talvez não haja mesmo - uma só pessoa em Brumadinho que não tenha experiências de dor para compartilhar, nas memórias de um parente ou amigo levado pela lama.

Lama que não era preciso, ao menos até o início de maio, quando estive na cidade, ir muito longe da região central para visualizar em seus restos, com bombeiros ainda trabalhando no resgate dos não localizados.

Um sinal de acalanto, no entanto, se vê em iniciativas que procuram ir além da solidariedade mais óbvia.

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O grupo de voluntários Amigos de Brumadinho, formado pouco depois do rompimento da barragem, encabeça algumas delas, preocupando-se com o que será da cidade daqui para frente, socialmente e economicamente falando.

Promover cursos para os moradores e atividades educacionais são algumas das iniciativas que o grupo quer manter.

Visitar Brumadinho também foi a oportunidade de completar um ciclo no trabalho jornalístico que desenvolvi, junto do jornal Joca, desde a tragédia.

Ali, pude conhecer alguns dos estudantes e professores que trocaram cartas com nossos leitores, em uma iniciativa que, muito além de palavras de solidariedade, deu voz àqueles que, em um futuro próximo, estarão com as rédeas de nosso país em mãos: as crianças e os jovens.

A partir de diversas cidades, leitores do Joca enviaram mais de 2.200 mensagens para escolas de Brumadinho, tendo o jornal como ponto de intermédio para que a comunicação se realizasse com sucesso. As cartas, aos poucos, foram sendo respondidas. E nos fizeram viajar até o município.

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Ter olhado nos olhos de quem recebeu, leu e respondeu a uma dessas mensagens é algo a nunca ser esquecido. Mais de 100 dias se passaram e a tragédia não ficou para trás. Brumadinho não quer, não pode e não deve ser esquecida.

*Maria Carolina Cristianini, editora-chefe do jornal Joca, voltado para crianças e jovens

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