Viajo a Washington com certa frequência. As vicissitudes da vida me levaram a liderar um projeto de pesquisa chamado The Medulloblastoma Initiative – MBI (www.mbinitiative.org) - que visa encontrar a cura do tumor cerebral mais comum em crianças. O projeto, que reúne alguns dos mais renomados cientistas do mundo, está baseado no Childrens National Hospital, em Washington D.C.
A minha mais recente ida a Washington foi particularmente diferente de todas as outras. Isso porque, para a grande honra e orgulho, o MBI foi uma das duas únicas entidades escolhidas para participar da sessão especial do Conselho Permanente da OEA – Organização dos Estados Americanos. Tratava-se de uma sessão em alusão ao dia mundial das doenças raras.
A OEA congrega 32 dos 35 países do continente americano (Nicarágua, Cuba e Venezuela não participam). O órgão constitui o principal fórum governamental, político, jurídico e social do hemisfério ocidental. A sede da organização está localizada num imponente prédio de arquitetura clássica localizado em frente ao famoso parque National Mall e a poucos metros da Casa Branca.
Chovia muito naquela tarde do dia 6 de Março. Fiz questão de chegar cedo. Eu estava tomado por uma mistura de sentimentos: nervosismo, orgulho e emoção. Lembro que, ao entrar no prédio, o funcionário da segurança perguntou o propósito da minha visita. Sem titubear, orgulhosamente respondi: “Fui convidado para falar na reunião do Conselho Permanente”.
A reunião do Conselho acontece no imponente salão Libertador Simon Bolívar. Os 32 diplomatas sentam em ordem alfabética por país, e ao redor de uma enorme mesa ovalada. O Presidente do Conselho, o Secretário Geral e outros altos funcionários da Organização, ficam numa posição de destaque, num dos extremos do salão. No outro extremo está a bancada com os países chamados de observadores da OEA. Entre eles, estão Suíça, Espanha, Reino Unido, França e até o Vaticano. No alto, numa espécie de mezanino, estão quatro cabines de vidro onde ficam os tradutores. As reuniões são traduzidas simultaneamente para o inglês, francês, espanhol e português. Tudo impecavelmente organizado.
Foi interessante observar toda aquela pluralidade. Afinal, para quem não é diplomata como eu, não é todo o dia que se tem a chance de ver tantas culturas diferentes. Culturas estas que se manifestam através das roupas, do estilo, de características físicas ou do idioma.
Porém, independente das diferenças, percebe-se algo em comum no ambiente. Trata-se do elevado nível cultural e de cordialidade do universo diplomático, os quais são pré-requisitos básicos para seguir nesta carreira.
A diplomacia é a arte e a ciência de manter relações pacifícas entre nações, grupos ou indivíduos. Portanto, o diálogo, a empatia, a identificação de afinidades e a construção de soluções, são os ingredientes que formam a essência das relações diplomáticas. Ingredientes estes que, infelizmente, são cada vez mais raros nos dias de hoje.
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