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Juiz condena 6 ex-vereadores de Mogi das Cruzes a até 12 anos de prisão por ‘escoamento de propinas’

Sentença acolhe denúncia criminal da Promotoria na esteira da Operação Legis Easy que, em 2020, prendeu os acusados, então no exercício do mandato na Câmara do município a cerca de 50 quilômetros de São Paulo, por apoio a leis encomendadas por empresários; Estadão busca contato com a defesa

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Por Pepita Ortega
Atualização:
O ex-vereador Mauro Araújo, que pegou a maior sentença na esteira da Operação Legis Easy Foto: Câmara de Mogi das Cruzes


O juiz Tiago Ducatti Lino Machado, da 3ª Vara Criminal de Mogi das Cruzes, condenou seis ex-vereadores de Mogi das Cruzes - município localizado a cerca de 50 quilômetros de São Paulo - pelo suposto recebimento de propinas para apoiar leis ‘encomendadas’ por empresários. A sentença impõe aos ex-parlamentares penas de até 12 anos de prisão, pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e tráfico de influência.

A reportagem do Estadão pediu manifestação da Câmara de Mogi e busca contato com a defesa dos ex-vereadores condenados. Eles podem recorrer.

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A avaliação do magistrado é que as provas nitidamente indicam o ‘escoamento de propinas por meio de empréstimos simulados’. Segundo Lino Machado, os prints de conversas entre os investigados corroboram a ‘existência de um programa organizado e montado’ para o pagamento de vantagens indevidas.

A sentença acolhe denúncia do Ministério Público do Estado na esteira da Operação Legis Easy. A fase ostensiva da investigação foi aberta em setembro de 2020 e levou à prisão dos vereadores por participação em um esquema de corrupção envolvendo também contratos com a Secretaria Municipal de Saúde de Mogi e o Serviço Municipal de Águas e Esgotos (Semae).

Foram condenados:

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  • Mauro Luiz Claudino de Araújo - ex-vereador, hoje suplente - condenado a 12 anos, dois meses e 20 dias de prisão por organização criminosa, corrupção passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro
  • Francisco Moacir Bezerra de Melo Filho, o ‘Chico Bezerra’ - ex-vereador e ex-secretário de Saúde, hoje suplente de vereador - condenado a seis anos, dez meses e 20 dias de prisão por organização criminosa e corrupção;
  • Carlos Evaristo da Silva, ‘Pastor Evaristo’ - ex-vereador - condenado a seis anos, dez meses e 20 dias de prisão por organização criminosa e corrupção passiva;
  • Antonio Lino da Silva - ex-vereador - condenado a seis anos, dez meses e 20 dias de prisão por organização criminosa e corrupção passiva;
  • Jean Carlos Soares Lopes, o ‘Negão’ - ex-vereador - condenado a cinco anos e onze meses de prisão por organização criminosa e corrupção passiva;
  • Diego Martins, o ‘Diegão’ - ex-vereador - condenado a cinco anos, oitos meses e 20 dias de prisão por organização criminosa e corrupção passiva;
  • Pablo Henrique de Souza Bezerra, o ‘Alemão’ - filho de ‘Chico Bezerra’ - condenado a seis anos, dez meses e 20 dias de prisão por organização criminosa e corrupção ativa;
  • Joel Leonel Zeferino - condenado a 11 anos e 20 dias de prisão por organização criminosa e corrupção ativa;

Segundo a Promotoria, Mauro Luiz era o ‘principal articulador do esquema na condição de responsável pela relação espúria junto a alguns empresários que firmam contratos com a Administração Pública’.

O ex-parlamentar da Câmara de Mogi das Cruzes também foi denunciado como ‘controlador das finanças da organização criminosa, que distribui seus lucros aos demais vereadores investigados apropriando-se de outra parte’.

A investigação teve início quando Mauro Luiz registrou um boletim de ocorrência ‘como vítima na aquisição de lote de veículos não entregues por site de leilões’. À época, a transação foi considerada ‘absolutamente atípica’ já que Mauro Luiz recebia R$ 12.163,65 e a compra foi realizada no valor de R$ 314 mil.

O negócio se deu por meio de Joel Leonel Zeferino, um empresário da construção civil. Joel é apontado pela Promotoria como dono de empresas que fecharam quatro contratos com o município para a construção de moradias populares em Mogi.

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A fachada da Câmara de Mogi das Cruzes Foto: Google Streetview

Ainda de acordo com o MP, além de Joel, outros investigados seriam responsáveis por repasses financeiros a Mauro Araújo, entre eles Francisco Bezerra e seu filho Pablo. Os outros ex-vereadores acusados, segundo a sentença, recebiam propinas ‘para apoio às pretensões de Mauro Araújo e recebiam valores das empresas’ do parlamentar.

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Na denúncia levada à Justiça, o MP apresentou até conversas entre os investigados. Uma mensagem recebida por Mauro, em abril de 2019, indica como o grupo operava. “Fiquei sabendo na sexta-feira que o Hospital de Braz Cubas vai trocar a empresa de limpeza. Se tiver algum acesso. Vamos pra cima.”

Em outro diálogo, o ex-parlamentar afirmou a um colega, ‘Pastor Evaristo’, também ex-vereador. “Pastor estou aqui com as questões na mão mas como são um pouco distantes, um para final de dezembro e um para o final de janeiro, eu vou colocar R$4.400,00 pro senhor na conta do Senhor, tá bom, fica com Deus aí.”

COM A PALAVRA, A CÂMARA DE MOGI DAS CRUZES

A Câmara Municipal de Mogi das Cruzes não está no processo e ele corre em segredo de justiça. Nenhum dos envolvidos tem mandato nesta legislatura.

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COM A PALAVRA, A DEFESA DE CHICO BEZERRA E SEU FILHO PABLO

Em recurso a ser apresentado no Tribunal ficará demonstrado que, apesar de sua extensão e longo período para que fosse elaborada (mais de um ano), a sentença sequer analisou nulidade do processo ou os inúmeros depoimentos e documentos que comprovam a inexistência de qualquer conduta ilícita por parte dos denunciados. É mera repetição do entendimento unilateral, que antecedeu o contraditório, utilizado para deflagrar a operação às vésperas das eleições municipais de 2020.

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