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Opinião|O que falta ao mundo?

O que fazer para que a humanidade adquira juízo? Educar, ensinar, aconselhar, acompanhar a formação da infância, para que desde cedo se possa incutir em criaturas finitas a noção de que a peregrinação pelo planeta é muito efêmera e cada vez mais frágil

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convidado
Por José Renato Nalini

Falta muita coisa. Principalmente juízo. Tivera o homem um mínimo de juízo e não maltrataria tanto a natureza, da qual faz parte e sem a qual, tende a desaparecer mais cedo do que se poderia imaginar.

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O que fazer para que a humanidade adquira juízo? Educar, ensinar, aconselhar, acompanhar a formação da infância, para que desde cedo se possa incutir em criaturas finitas, a noção de que a peregrinação pelo planeta é muito efêmera e cada vez mais frágil. Talvez então, chegue-se a um discernimento capaz de favorecer o convívio fraterno que deve existir entre seres que se consideram racionais.

E pensar como os antigos, que diziam: “tudo se vende no grande mercado deste mundo, menos juízo, o que falta a muita gente e não sobeja a ninguém. Quem não tem juízo, perde o seu e não ganha o alheio. Um homem reputado de saber, juízo e virtude, dá sujeição a muita gente. Os homens de juízo e experiência adivinham com frequência. Não admira que o juízo seja censurado, quando a loucura já foi elogiada”.

Na verdade, o que falta ao convívio é o uso do bom juízo. Porque há juízos errados: “Devemos recear os juízos dos homens por falíveis, mas adorar os de Deus, por infalíveis”. Adquire-se juízo mediante educação? Sim. Só que “a ciência pressupõe juízo, não o compreende necessariamente”.

Falta juízo quando as universidades têm salas ociosas e as igrejas restam vazias. Pois “os velhos de juízo frequentam mais as igrejas que os palácios e teatros” e “os velhos de juízo, desenganados do mundo e retirados das companhias, são acusados de misantropos e insociáveis”. E “os homens de juízo, virtude, sabedoria e santidade, são os menos livres, ou os que menos usam e abusam de liberdade”.

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Na verdade, fala-se demais, pensa-se de menos. “Os homens de mais juízo são, ordinariamente, também os de maior silêncio”. Será que só se aprende mediante sofrimento? “É triste que os homens e povos não possam aprender senão sofrendo. O mal é o preceptor mais eficaz, que com as suas lições incisivas e penosas, lhes confere juízo e prudência e os dirige no exercício da liberdade que muito prezam, e de que tanto abusam para sua miséria e desgraça”.

A filosofia ensina que juízo é saudável até para combater a pobreza: “Com juízo, trabalho, inteligência e economia, é pobre quem não quer ser rico”. Ocorre que “sempre nos enganamos com os homens, quando os supomos com muito juízo, saber, exatidão, lealdade e probidade”. Além disso, é bom repetir, “o juízo nunca sobra a alguém, mas falta geralmente a muita gente”. Mesmo porque, “com saúde, riqueza e juízo, o sonho da vida é tão venturoso como aprazível” e “o juízo de poucos dirige e regula a incapacidade de muitos”.

Se alguém vier a ser inquirido se tem mesmo juízo, responderá afirmativamente. “Os homens presumem geralmente ter suficiente juízo, mas não bastante dinheiro ou riqueza”. É por isso que acontecem as vicissitudes: “quem não tem juízo, perde o favor dos homens e da fortuna”. “Admiramos os escritos e obras de alguns literatos e artistas que desprezamos por seu irregular procedimento, extravagância e falta de juízo e exatidão na vida familiar e social”.

Juízo tanto faz falta, como incomoda os que o não têm. “O homem de muito saber e juízo é um flagelo para si e para os outros, pela exatidão, atenção, discernimento e inteligência que dele se exige e espera, mas não pode obter ordinariamente”. Todavia, “exigir dos moços juízo e prudência é pretender que os frutos verdes tenham o sabor e perfume dos maduros”.

Ocorre que “o juízo chega tão tarde a muita gente, que não pode já restaurar a saúde arruinada por falta dele. Em questão de juízo, as próprias nações chegam a ser acusadas de não tê-lo: “A nação francesa tem mais engenho e menos juízo que a inglesa”. Entretanto, “o louvor que os homens prezam mais é de ter juízo; as mulheres, de serem formosas”. Só que “tanto é rara a sabedoria, quanto o juízo vulgar”. Enfim, “pode haver ciência, engenho, talentos, sem juízo”. Enfim, “juízo é ordem: loucura, desordem”.

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O certo é concluir como o Marquês de Maricá: “Em toda a minha vida me tenho enganado com os homens, supondo-os com mais juízo, ciência e probidade do que eles têm realmente”.

Depois de refletir sobre tudo isto, o que você acha que está faltando ao nosso mundo?

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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