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Opinião|Os Prestes de Itapetininga

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Atualização:
José Renato Nalini. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O nome de família Prestes fez história em São Paulo e no Brasil. Os mais destacados membros que a integraram nasceram em Itapetininga. Em 26 de junho de 1855 nasceu Fernando Prestes de Albuquerque. Foi um agricultor típico, autêntico representante daquela aristocracia rural de que fala Oliveira Vianna.

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Queria um Brasil democrata e acreditou na República. Representou a sua terra e o sul do Estado na Câmara dos Deputados em São Paulo e, durante a revolta da Armada, em 1893, comandou o grupo de Itapetininga e defendeu Paranapanema e Itararé, ameaçadas pelas forças revolucionárias do Sul. Foi graças à sua bravura que o Marechal Floriano Peixoto o distinguiu com a patente de Coronel honorário do exército.

Eleito deputado federal, exerceu o mandato até 1898, quando assumiu a Presidência de São Paulo, em substituição a Manoel Ferraz de Campos Sales, eleito Presidente da República. No comando bandeirante notabilizou-se pela economia do Erário e pela criação do Instituto Butantan. Depois de governar, ainda voltou a ser deputado federal, líder da bancada paulista e da maioria, durante a presidência Rodrigues Alves. Foi vice-presidente do Estado em três períodos.

Pai do estadista Júlio Prestes de Albuquerque, outro itapetiningano ilustre, nascido em 15 de março de 1882. Estudou nas Arcadas de São Francisco, onde também fez poesia e se formou em 1906. Logo elegeu-se deputado estadual e se destacou por sua inteligência e combatividade. Defendeu a incorporação da Estrada de Ferro Sorocabana ao patrimônio do Estado e em 1924 foi eleito deputado federal.

Quando os paulistas tiveram de pegar em armas para defender o Estado de Direito e exigir do ditador Vargas uma Constituição democrática, ao lado de seu pai, do General Ataliba Leonel e do Senador Washington Luís, organizou e comandou a destemida Coluna Sul, formada pelos patriotas de Itapetininga e da região. Grupo que pôs em fuga os revoltosos da Sorocabana.

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De volta à Câmara Federal, como líder da maioria, foi autor do projeto de assistência aos menos favorecidos, lutando ao lado de Eloy Chaves para a criação da Previdência Social. Na reeleição de 1927, foi o mais votado no Brasil, conseguindo mais de sessenta mil votos.

A morte precoce de Carlos de Campos fez com que assumisse a Presidência de São Paulo. Realizou obras de vulto, que o notabilizaram como um dos mais profícuos governantes do povo bandeirante.

Devido à sua origem familiar, cuidou primeiro da terra, a fonte de todas as riquezas. Incentivou a cultura do café e do algodão, com seleção e distribuição de sementes e incentivo à agricultura em geral. Preocupava-se em mostrar à juventude que a lavoura nunca decepciona e é um exercício de autoconhecimento, pois o homem é terra e a ela voltará.

Construiu o Parque da Água Branca, incentivou a citricultura, o cultivo da cana de açúcar e já sustentava o seu aproveitamento para produção do álcool, em substituição ao poluente e letal combustível fóssil, o petróleo.

Adepto da ferrovia, converteu a Sorocabana em exemplo de eficiência, a melhor estrada de ferro da América do Sul. Não é por mera coincidência que a Estação Ferroviária que hoje se converteu na Sala São Paulo foi denominada Júlio Prestes.

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Fez o prolongamento da ferrovia até Mairinque e Santos, para escoamento da produção agrícola. Foi em sua gestão que surgiram o Palácio da Justiça, iniciado por Herculano de Freitas como Secretário da Justiça, com o projeto de Ramos de Azevedo. Faculdade de Medicina, Instituto Biológico e Jardim Botânico são outras obras suas. Preocupou-se com o abastecimento de água e destinou a represa de Santo Amaro para servir à população. No seu governo foi criado o Museu Agroindustrial, o pavilhão de química da ESALQ, o Manicômio Judiciário, a Colônia Correcional, a ampliação da Penitenciária. Promulgou o Código de Processo Civil e Comercial do Estado. Ampliou o serviço sanitário, o combate à febre amarela, à tifoide e à lepra. Para esta, construiu os asilos-colônia Aimorés, Cocais e Pirapitingui e criou e instalou mais de mil escolas.

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Eleito Presidente da República e prevista a posse para 15 de novembro de 1930, viajou à Europa. Aqui, o golpe de Estado impediu sua posse e o exilou. Voltou ao Brasil quando a Constituição de 1934 fez o país respirar novamente a democracia. Ainda atuou na campanha do brigadeiro Eduardo Gomes, o candidato das oposições, em 1944. Faleceu a 9 de fevereiro de 1946. Os Prestes foram dois jequitibás em honestidade e moral cívica. Não são de Itapetininga, apenas. Servem de padrão para o Brasil.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

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