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Opinião|Saúde mental em atletas de alta performance: o desafio invisível nos esportes

Falar sobre transtornos psiquiátricos e adoecimento em saúde mental ainda é um grande tabu em quase todas as sociedades. Vencida a barreira de admitir a necessidade de ajuda, surge a dificuldade de acesso a serviços de qualidade

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convidado
Por Matheus Steglich

“Mental Health matter” (em tradução livre, saúde mental importa) é o texto que acompanha foto postada por Simone Biles em uma rede social. Nessa imagem pode-se ver a multicampeã olímpica sentada, em postura de meditação. A foto conta com mais de 3,5 milhões de curtidas.

Nos jogos olímpicos de Tóquio, em 2020, Biles já trouxe a discussão sobre saúde mental para o centro da arena olímpica ao decidir se retirar das finais do solo, barras assimétricas e individual. “Acho que a saúde mental é mais importante nos esportes nesse momento. Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos”, afirmou a atleta naquela ocasião.

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E esse assunto seguiu chamando a atenção. Com o início dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, o técnico da seleção paralímpica de Taekwondo, Rodrigo Ferla, também ressaltou em recente entrevista sobre a importância do acompanhamento psicológico. “Acredito que o acompanhamento de um psicólogo é fundamental para os atletas hoje porque existe muita pressão, muita cobrança, e se o atleta não conseguir lidar isso vai afetar a saúde mental. Então, o apoio de um profissional dessa área é fundamental.”

O estudo dos transtornos psiquiátricos em atletas de alto rendimento é um campo fervilhante de pesquisa nos últimos anos, pelo entendimento contemporâneo que esses profissionais, submetidos a estressores ambientais intensos, precisam de cuidados físicos e mentais para obterem êxito em suas modalidades, sem adoecerem no processo de atingir a máxima performance. Em artigo publicado por Golding e colaboradores em 2020 foi verificada a ocorrência de sintomas depressivos importantes em até 34% dos casos, em uma amostra de atletas maiores de 17 anos. Akesdotter e colegas estudaram atletas suecos de diversas modalidades e reportaram uma prevalência durante a vida de problemas de saúde mental em 51,7% dos esportistas.

Números encontrados na população de atletas vão ao encontro do verificado na população geral. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2019, uma a cada oito pessoas (970 milhões de indivíduos) viviam com alguma condição de saúde mental. Isso teria aumentado após a pandemia COVID-19, em função das pressões ambientais de isolamento e demais consequências econômicas e sociais.

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A redução do estigma e a crescente fala dos atletas sobre o tema parecem ter direcionado para ações de maior cuidado com a saúde mental. Um exemplo é a iniciativa do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em incluir na delegação de Paris 2024 uma equipe composta por psiquiatra e psicólogos, para apoio aos atletas durante os jogos. Outra ação foi a criação, em 2020, por parte do Comitê Olímpico e Paraolímpico dos Estados Unidos, de um programa focado em saúde mental e performance, que atualmente conta com 14 profissionais em tempo integral.

Falar sobre transtornos psiquiátricos e adoecimento em saúde mental ainda é um grande tabu em quase todas as sociedades. Vencida a barreira de admitir a necessidade de ajuda surge a dificuldade de acesso a serviços de qualidade. Muito ainda precisa ser feito em relação ao cuidado dos portadores de doenças psiquiátricas, porém os avanços e iniciativas individuais e coletivas precisam ser reconhecidas.

O poeta romano Juvenal escreveu em sua obra Sátira X a conhecida citação ‘’ Mente sã num corpo são’'. Deve-se discutir se a mente na realidade não é única com o corpo, porém a frase nos traz a importante reflexão que não há saúde física sem saúde mental, mesmo em um grupo ‘super-humanos’ que diariamente praticam atividade física de alta performance.

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Matheus Steglich
Psiquiatra e diretor assistencial do Instituto São José do Grupo ViV Saúde Mental e Emocional. Foto: Arquivo pessoal
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