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Opinião|Setembro Amarelo: por que cresce o suicídio entre jovens?

convidado
Ricardo Castilho Foto: Arquivo pessoal

O que teria levado uma menina de 23 anos, de profissão definida, sem problemas financeiros, de casamento marcado, a ser imortalizada como protagonista do “mais bonito suicídio da História”? Até hoje, passados 76 anos, ninguém soube explicar por que Evelyn McHale se jogou do 86º andar do icônico Empire State Building, à época o arranha-céu mais alto do mundo. A espetaculosa manchete da revista Life correu o mundo e impressionou legistas e leigos: o corpo de Evelyn, sobre o capô de uma limousine, estava praticamente intacto. Um bilhete, na bolsa dela, justificava o gesto tresloucado: “Ele ficará muito melhor sem mim… eu não seria uma boa esposa para ninguém.”

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O que, efetivamente, empurrou Evelyn para a morte? Que tipo de gatilho teria acionado o mecanismo cerebral e deu a ordem de comando para decisão tão enigmática? O que sabemos apenas é que, de Evelyn para cá, tem sido tristemente impressionante o número de casos entre pessoas jovens que se suicidam. É, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a segunda causa de morte na faixa etária dos 15 aos 29 anos. Mais de um milhão por ano no mundo, cerca de 12 mil no Brasil. Diante de índices tão alarmantes, faz todo sentido indagar por que, em vez de apenas um mês, a OMS e as instituições públicas e privadas da área de Saúde não fazem campanhas permanentes de prevenção ao suicídio? O Setembro Amarelo é, sem dúvida, iniciativa louvável, mas, a meu ver, e na opinião de especialistas, o problema já extrapolou os limites do senso comum e precisa de remédio mais eficaz para, ao menos, refrear a evolução dos índices de mortalidade.

A maioria das pessoas com quem debato o assunto considera que a maior dificuldade na prevenção do suicídio é identificar os sinais que precedem o epílogo de uma crise que é urdida sub-repticiamente nos labirintos da mente humana. Para a OMS, “é relativamente comum que na adolescência surjam ideias suicidas, pois fazem parte do desenvolvimento de estratégias para lidar com problemas, como o sentido da vida e da morte”. Seria nesse cenário que surgem os chamados gatilhos do suicídio, terminologia que a milenar tradição religiosa catalogou como pecado, ou tabu e estigma.

Ah, dirão leigos como eu, para prevenir não é necessário identificar se a pessoa tem pré-disposição para o suicídio? Ou a causa seria a tristeza absoluta, o medo aterrorizante, o fracasso, a pressão social injusta?

Foi Einstein quem disse: “É mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo”. Eis aí, a meu ver, a mãe e o pai de todos os gatilhos. O resto veio acompanhado dos modernos conceitos de relacionamento social, identificados, por exemplo, em recente pesquisa da Fundação Fiocruz, como episódios de “violências e problemas na família, desentendimentos e rompimentos com namorados, abuso sexual, bullying, abuso de álcool e drogas, assalto, pressão escolar, obesidade e a interação em redes sociais virtuais...”. Por coincidência, sinais e formas de comportamento que surgiram logo após a Segunda Guerra Mundial e neste momento catalisados pelas redes sociais. Mas esse é outro assunto que trataremos em um próximo encontro.

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*Ricardo Castilho é jurista e escritor, pós-doutor pela USP e Universidade Federal de Santa Catarina. É diretor acadêmico da Escola Paulista de Direito

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