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'Tática Noboa' indica que Odebrecht cogitava fugir do País, diz força-tarefa

Arquivo de mensagens do celular de empreiteiro contém expressão que, para procuradores da Lava Jato, é referência a Gustavo Noboa, ex-presidente do Equador que, em 2003, fugiu do país

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Por Redação
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Marcelo Odebrecht, preso desde 2015, em Curitiba. Foto: Cassiano Rosário/Futura Press

Por Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Bandt, enviado especial a Curitiba

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Os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato suspeitam que o empresário Marcelo Bahia Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, 'cogitava se evadir do País e, assim, furtar-se de eventual aplicação da lei penal'. Segundo os procuradores, Odebrecht planejava recorrer à 'tática Noboa'' - anotação encontrada no arquivo de mensagens do celular do empreiteiro.

Para os procuradores, trata-se de "evidente referência" a Gustavo Noboa, ex-presidente do Equador (2000/2003) que fugiu do país após ser acusado de malversação de fundos na renegociação da dívida externa. Os procuradores suspeitam que, acuado pela Lava Jato, Odebrecht teria aventado a possibilidade de sair do Brasil. Ao lado da expressão 'tática Noboa', ele escreveu "nosso risco é a prisão'.

Clique na imagem para ampliar. Os grifos são da denúncia. Foto: Reprodução

O empreiteiro foi preso dia 19 de junho pela Erga Omnes, 14.º capítulo da Lava Jato. Na última sexta-feira, 24, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações decorrentes da investigação sobre propinas na Petrobrás, decretou nova prisão preventiva do empresário, com base em documentação bancária enviada pela Suíça.

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Os papeis revelam pagamentos da empreiteira para ex-diretores da estatal naquele país europeu. Os procuradores estão convencidos de que "resta sobejamente comprovado o papel de liderança ocupado por Marcelo Odebrecht frente às principais empresas do Grupo, denotando domínio e gestão nas atividades por elas desempenhadas, bem como de seu envolvimento nas práticas delitivas perpetradas pela organização criminosa".

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A força-tarefa destaca o financiamento pela Odebrecht de interesses políticos a partir da alusão a 'Feira', expressão também encontrada no celular do empresário. Para os procuradores, "Feira" significa "dinheiro oferecido".

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"A análise dos fatos apurados, especialmente das condutas dos dirigentes das empresas do grupo, revela que para a celebração era paga propina que chegava a 3% do valor contratual", assinala a Procuradoria. "Das provas angariadas durante as investigações, verifica-se que Marcelo Odedbrecht consiste em líder bastante ativo no que respeita às empresas do Grupo, gerindo-as e traçando estratégias - lícitas e ilícitas - para consecução dos objetivos propostos no cenário nacional e internacional."

Na denúncia contra o empreiteiro e os executivos - os quais ele chama de 'meus companheiros' -, a força-tarefa sustenta que "forte atuação de Marcelo Odebrecht pode ser observada não apenas no período anterior à deflagração da Operação Lava Jato, mas também quando a empresa passou a ser alvo de investigações".

Os procuradores destacam, ainda, que o delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, declarou à Polícia Federal em 14 de julho de 2015 que "a despeito de não ter tratado diretamente o pagamento de vantagens indevidas com Marcelo Odebrecht acordo de pagamentos de propina atinentes à Braskem, o executivo sempre demonstrou ser bastante atuante e possuir domínio dos assuntos ligados à Braskem".

Segundo os procuradores, no dia 20 de março de 2009, Odebrecht reuniu-se com o então presidente da estatal Sérgio Gabrielli e Paulo Roberto Costa. "Para que obtivesse a aprovação de contrato de venda de Nafta entre a Braskem e Petrobrás, reunião esta ocorrida após a recusa da Diretoria Executiva da estatal em firmar contrato nos termos pretendidos".

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A denúncia contra Marcelo Odebrecht diz, ainda, que documentos evidenciam a "forte atuação e a postura ativa adotada pelo empreiteiro nos negócios das empresas, participando em momentos estratégicos e determinantes, possuindo controle efetivo das ações ilícitas desempenhadas pela Odebrecht na organização criminosa, tanto no cartel, quanto na corrupção e pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos, ou, ainda, na lavagem do dinheiro sujo".

Os procuradores incluíram na denúncia de 205 páginas trechos do arquivo de mensagens do celular do empresário. Eles apontam para o comentário "higienizar apetrechos MF e RA" - para os procuradores a anotação demonstra preocupação de Odebrecht com eventuais documentos e provas de posse de Marcio Faria e Rogério Araújo, executivos da empreiteira também presos e denunciados à Justiça Federal.

"Esses executivos são, por várias vezes, fruto de preocupação de Marcelo Odebrecht, questionando-se o que haveria de evidências contra eles e garantindo que 'segurará até o fim', garantindo-lhes reembolso e a segurança de suas famílias, o que demonstra não só a participação deles no esquema criminoso, mas também a posição de líder ocupada por Marcelo Odebrecht."

VEJA O QUE DISSERAM OS ADVOGADOS DA EMPREITEIRA

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

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A Odebrecht considera que o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público Federal (MPF) do Paraná feito hoje é o marco zero do início do trabalho da defesa. A partir de agora, os advogados poderão conhecer as alegações imputadas aos executivos investigados, assim como será possível analisar o conjunto de documentos apresentado pela acusação, o que viabilizará, finalmente, o devido exercício do direito de defesa.

No entanto, as alegações apresentadas pelo MPF, de forma midiática e escandalosa na tarde de hoje, não justificam, em hipótese alguma, a manutenção da prisão arbitrária e ilegal do diretor presidente do Grupo, Marcelo Odebrecht e de quatro ex-executivos. Muito menos justificam a surpreendente decretação de nova prisão preventiva, com a revogação da anterior, num claro movimento para anular os efeitos dos pedidos de habeas corpus perante o STJ.

Sobre o pedido de cooperação enviado pelos procuradores da Suíça, a Odebrecht buscará todos os esclarecimentos junto às autoridades competentes naquele país para que os fatos sejam devidamente apurados. Note-se que enquanto o Ministério Público da Suíça busca informações para ampliar suas investigações, no Brasil os procuradores atribuem aos mesmos dados o peso da mais absoluta verdade. Mais uma vez verifica-se que enquanto o MPF diz que trabalha com fatos, na verdade, vemos juízos de interpretação, suposições e alegações desconexas e descontextualizadas.

Os advogados lamentam a exposição pública de todo o processo e a falta de critérios na divulgação de documentos vazados a conta gotas, sem nenhum pudor, chegando a expor, desnecessariamente, até mesmo as famílias dos executivos.

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