BRASÍLIA - Paulista radicado na orla do Rio, o presidente da República eleito, Jair Bolsonaro, gosta mesmo é da culinária gaúcha. E da farta. Deputado federal há 27 anos, Bolsonaro é habitué de dois restaurantes à la carte em Brasília. Um de cortes nobres de carne, no antigo bairro operário da Vila Planalto; outro, um rodízio de galeto, à beira do Lago Paranoá.
Quando está na capital federal, o presidente eleito frequenta quase semanalmente um dos dois restaurantes, em geral, acompanhado do filho Eduardo Bolsonaro, carioca e deputado federal por São Paulo, namorado de uma gaúcha, e líder do PSL na Câmara.
O Gaúcho da Vila serve como estrela de um menu simples, mas especializado em carnes nobres, o assado de tira, tradicional corte de costela uruguaio. O prato vem acompanhado de arroz carreteiro, feijão e feijão tropeiro, além de molhos vinagrete e chimichurri, tradicional . De entrada, a casa oferece linguiças de cordeiro e costela angus. Na galeteria Beira Lago, os Bolsonaro refestelam-se no rodízio de galeto à moda gaúcha, acompanhado de polenta frita, macarronada à bolonhesa, farofa e maionese de batata. As contas desses almoços nos restaurantes foram pagas com verba pública da Câmara dos Deputados, reembolsadas ao gabinete de Bolsonaro e Eduardo.
Antes de se mudar para a Granja do Torto, uma das residências oficias da Presidência da República, Bolsonaro morou com o filho em um apartamento funcional na Asa Norte, no último bloco da quadra 202. Eduardo recebeu auxílio-moradia no período em morou no apartamento funcional com o pai. O edifício é antigo, com cobogós (criação pernambucana do final dos anos 1920, esse elemento vazado favorece a ventilação e a entrada de luz), pastilhas verdes no revestimento e janelões envidraçados na sala ampla em formato retangular, de frente para uma praça arborizada e erma. Tinha como vizinhos, dois andares abaixo, a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), a quem indicou como futura ministra da Agricultura, e um adversário, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG).
Na primeira noite como presidente eleito, Bolsonaro chegou em comboio com batedores da PM, carros blindados da PF, além de ambulância do Corpo de Bombeiros e helicóptero. Os moradores foram à janela registrar o momento. Moradores e funcionários eram abordados antes de terem acesso ao elevador de entrada. Até o controle remoto de acesso à garagem foi confiscado. Os porteiros mantinham um formulário com registro e identificação dos visitantes, a pedido da administração. Antes, a PF fez uma varredura de segurança na quadra e de inteligência no apartamento, para verificar a existência de grampos, uma preocupação do presidente eleito.
Tido como linha dura, Bolsonaro era afável com os funcionários do prédio, que são terceirizados na Câmara. Logo que se mudou para o apartamento funcional, posou para fotos com o porteiro, que guarda o retrato no celular, e desceu para comer galinha caipira na cozinha improvisada no térreo. Costumava sentar com o filho Eduardo para bater papo à noite nos bancos de mármore branco, sob os pilotis. A rotina deles era pacata, com poucas saídas de casa. Desportista amador, Eduardo, de vez em quando, entrava na pelada com os adolescentes vizinhos na quadra ao lado do edifício. O pai tinha por hábito tomar café coado com as serventes da limpeza e oferecer frutas ao porteiro de plantão noturno. O presidente eleito aprecia o caqui. Sem cica.
A partir do dia 1º, o endereço de Bolsonaro passa a ser o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República. O palácio passou por recuperação histórica, estimada em R$ 2,5 milhões, e voltou a ter o mobiliário pensando por Oscar e Anna Maria Niemeyer.