BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta quinta-feira, 23, a inclusão de pautas contra o Congresso e o Judiciário nas manifestações a seu favor marcadas para o próximo domingo. Em café com jornalistas no Palácio do Planalto, o presidente afirmou que estas bandeiras “estão mais para o Maduro”, numa referência ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusado por opositores de implantar uma ditadura no país. “Quem defende o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional está na manifestação errada”, disse ele, segundo a Rádio BandNews, que estava no café. O Estado não participou do encontro.
O presidente também reiterou que não irá aos atos previstos em várias capitais do País. A mobilização de apoio ao governo foi marcada como uma resposta aos protestos contra o contingenciamento de verbas para a Educação, que levou milhares às ruas no último dia 15.
Os atos ganharam força após o próprio presidente compartilhar um texto, via WhatsApp, dizendo que o Brasil é “ingovernável” fora dos “conchavos”, conforme revelou o Estado. Uma declaração de Bolsonaro, na segunda-feira, de que o “grande problema do País é a classe política” também ajudou a dar combustível para a convocação, que é capitaneada pela rede bolsonarista.
Segundo interlocutores do presidente no Palácio do Planalto, embora as manifestações sejam vistas como irreversíveis, a mudança de tom de Bolsonaro tem como objetivo desvincular o governo dos atos e evitar ruídos com os demais Poderes, colocando em risco sua governabilidade.
O presidente, inclusive, tem desestimulado auxiliares a participarem das manifestações. Segundo o Estado apurou, até mesmo o filho Carlos Bolsonaro, o mais ativo nas redes sociais, tem dito que não vai às ruas no domingo em apoio ao governo do pai.
Nesta quinta, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, defendeu as manifestações, mas repetiu que não se trata de atos organizados pelo governo. “Essa é uma manifestação da sociedade. Ela será apenas acompanhada e respeitada pelo governo. É da mesma maneira com as que podem ser favoráveis ou contrárias (ao governo). O que cabe a quem está no governo é ter equilíbrio, serenidade, respeito, porque é a cidadania se manifestando”, disse o ministro, em entrevista à Rádio Gaúcha.
Questionado sobre a inclusão de ataques ao Congresso e ao Judiciário como foco da mobilização, Onyx disse que não é uma pauta do governo. “Não sei (quais são as reivindicações). Não fomos nós que organizamos, não fomos nós que chamamos”, afirmou o chefe da Casa Civil, responsável pela articulação do governo com o Congresso.
O Planalto não arrisca estimar o tamanho que as manifestações terão no domingo, mas a avaliação no governo é de que um eventual fracasso pode ser encarado como uma falta de apoio popular a Bolsonaro. Há ainda uma percepção de que a aprovação na Câmara da medida provisória que reduziu o número de ministérios de 29 para 22 arrefeceu o movimento.
Conforme mostrou o Estado na quarta-feira, uma análise feita pelo WhatsApp Monitor, ferramenta de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – que acompanha 350 grupos públicos do aplicativo –, indica que as mensagens favoráveis ao presidente com convocações para os atos começaram a se destacar entre as mais compartilhadas no dia 16 último, logo após os protestos pelos cortes na Educação.
Nas redes sociais, é possível identificar convocações para atos em ao menos 296 cidades brasileiras. Estão registradas também mobilizações em nove municípios no exterior, com destaque aos Estados Unidos, com cinco localidades.
Os principais grupos à frente dos atos do próximo domingo são Avança Brasil, Consciência Patriótica, Direita São Paulo e Movimento Brasil Conservador. Além deles, dezenas de outros grupos menores atuam nas redes sociais. A esses movimentos, articulados majoritariamente pelo WhatsApp, se soma uma rede de influenciadores digitais alinhados com o clã Bolsonaro e com o chamado “núcleo ideológico” do governo.
Os atos, porém, têm sido alvo de críticas de aliados e potenciais aliados do Planalto. Nesta quinta, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), voltou a classificar as manifestações como “totalmente desnecessárias”. “O Brasil já foi às ruas, o Brasil já votou, já elegeu, não tem que voltar às ruas neste momento.” Para Doria, o País precisa de “paz, harmonia e entendimento” do povo e dos poderes. “Não precisamos de rua para confrontar nada, é perda de tempo. Vamos concentrar energia aprovando a reforma da Previdência”, afirmou o governador tucano.
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